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A culpa é do aluno! Será?

Reproduzo um texto da colega Ana Prado. É o tipo de análise que precisa ser feita na UFPA. Uma discussão sobre a situação da graduação na nossa universidade e sobre a atribuição de culpa, pelos índices alarmantes que surgem dos dados do Inep, sempre, aos alunos. O texto mostra que a culpa não é dos alunos, mas dos gestores. Precisamos discutir os números.

É também por isso, por causa dessa situação, que eu voto João Weyl para reitor.

A culpa é do aluno!#SQN
Ana Lúcia Prado

Tenho dedicado parte do meu tempo para analisar alguns indicadores do ensino de graduação. Como sou professora da graduação há 15 anos e já coordenei por muito tempo um bacharelado em uma IES privada, eu me sinto confortável em lidar com esses indicadores. Recentemente, me detive sobre os números publicados pelo Inep(*) a respeito do desempenho da UFPA nesse quesito. Alguns pontos merecem reflexão séria:

- É visível o declínio dos cursos de graduação da UFPA nas últimas avaliações do MEC. O MEC/Inep avalia os cursos basicamente por dois indicadores: o CPC (Conceito Preliminar de Curso) e o Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). O CPC avalia os cursos, em suas diferentes dimensões (desempenho de estudantes, corpo docente, infraestrutura, recursos didático-pedagógicos e demais insumos). Já o Enade avalia exclusivamente o desempenho dos estudantes.


- Há uma lógica perversa na UFPA quando atribui aos estudantes a baixa qualidade obtida nas avaliações do MEC – “os estudantes fazem boicote”; “os estudantes são relapsos ao realizarem as provas do Enade”; “os estudantes não se preparam adequadamente”; “os estudantes tem auto-estima baixa”; dentre outras falácias que ouço há muito pelos corredores da UFPA. Mas isso não é verdade! Ou como dizem meus alunos #SQN

- No último triênio (2012-2014), dos 82 cursos da UFPA avaliados pelo MEC/Inep, as notas obtidas no CPC são estarrecedoras. A maior universidade da Amazônia Legal possui vergonhosamente 86,3% dos cursos com CPC abaixo de 3 (REGULAR, INSUFICIENTE e PÉSSIMO). E o mais grave: não surge no universo dos 82 cursos avaliados, segundo os dados do MEC, nenhum com CPC acima de 3,6 – ou seja, ao que parece, não há excelência nas condições de oferta da graduação. 

- Por outro lado, o “vilão” histórico que era o aluno está salvando a avaliação da UFPA, tanto no Enade, quanto no CPC (que também leva em consideração a média do Enade). Ou seja, se não fossem os alunos, a avaliação do CPC dos cursos ainda estaria pior. Observe o desempenho dos alunos da UFPA no Enade (triênio 2012-2014). Ao contrário da ideia que sempre tentaram vender, 61,4% dos alunos estão nas faixas superiores das notas do Enade (REGULAR, BOM, EXCELENTE). Sim!!! Temos alunos na faixa EXCELENTE, mesmo que um pequeno percentual.


Então, fica bastante claro que não há como não responsabilizar a gestão da UFPA em seus cursos de graduação (abandono total das salas de aula, dos laboratórios, dos equipamentos, do acompanhamento pedagógico, da falta de livros, da ausência de política de integração do ensino/pesquisa/extensão) por esse cenário triste. O momento é de se perguntar porque a UFPA perdeu de perspectiva o investimento no ensino de graduação nos últimos anos?

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