Pular para o conteúdo principal

Governo Temer acaba com o Ciência Sem Fronteira: elitismo e meritocracia na universidade pública

O Governo Temer, sem nenhum debate público, sem nenhum diálogo com as universidades, extinguiu o Programa Ciência Sem Fronteiras. Mais um passo largo para ampliar a irrelevância do Brasil no cenário internacional. 
Pior é que tem gente, na universidade pública, comemorando essa desgraça. O pretexto, absurdo, é que quem promove a internacionalização das universidades – meta estratégica para a melhoria da pesquisa e do ensino – é a pós-graduação, e que, portanto, é um desperdício investir em mandar para o exterior alunos da graduação.
Acho uma grande cara de pau dizer uma coisa dessas. A internacionalização se faz com todos, e não com exclusão. Dizer que, estrategicamente, ela deve se concentrar na pós-graduação é um elitismo inadmissível, mesquinho como a visão meritocrática de que só os melhores devem ter vez.
Mesmo porque o benefício de ter alunos da graduação com uma experiência internacional é considerável, tanto para a melhoria do ensino, pois a experiência trazida por esses alunos enriquece o coletivo, como para a formação de quadros e de pessoas.
O Programa Ciência Sem Fronteiras, implementado em 2011 no Governo Dilma Rousseff, possibilitou estágios de 6 meses a um ano, em outros países, para cerca de 100 mil universitários. O benefício disso, para a sociedade brasileira, foi imenso.
Mas agora o governo Temer decidiu acabar com o programa, deslocando seus recursos – na verdade, apenas parte deles – para a pós-graduação. Trata-se do novo programa “Mais Ciência, Mais Desenvolvimento”, voltado para doutorado, pós-doutorado e docência.
É claro que todo recurso investido na pesquisa e na pós-graduação é importante, mas é criminoso acabar com o Ciência Sem Fronteira.

Educação, ciência e tecnologia não são gastos, mas sim investimentos. Investir na experiência de internacionalização do aluno de graduação é, na verdade, barato, diante do benefício que isso gera, porque o Brasil é um país historicamente isolado e voltado para o próprio umbigo. A sociedade contemporânea é multicultural, multiidentitária e poliglota. Acabar com o Programa é um retrocesso, o país caminha para trás.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

Artimanhas de uma cassação política: toda solidaridade a Cláudio Puty

Pensem na seguinte situação:  1 - Alguém, no telefone, pede dinheiro em troca da liberacão de licenças ambientais. 2 - Essa pessoa cita seu nome. 3 - A conversa é interceptada pela Polícia Federal, que investigava denúncias de tráfico de influência. 4 - No relatório da Polícia Federal, você nem chega a ser denunciado; é apenas um nome, dentre dezenas de outros, inclusive de vários parlamentares. 5 - Mesmo assim resolvem denunciar você por corrupção ativa. 6 - Seu sigilo telefônico é quebrado, sua vida é revirada. Nada é encontrado. Nada liga você àquela pessoa que estava pedindo dinheiro. 7 - Mesmo assim, você é considerado culpado. 8 - Os parlamentares, igualmente apenas citados, como você, são inocentados. Mas você, só você, pelo fato de ter seu nome citado por um corrupto, você é considerado culpado. É isso que acabou de acontecer com o deputado federal pelo PT do Pará Cláudio Puty. Ele vai entrar com um recurso junto ao Tribunal Sup...