Mas, e se não houver eleições? Já não é o meu amigo
quem me pergunta. Sou eu próprio quem me pergunta. Em épocas incertas o que
mais nos fazemos é perguntar, se não aquém, a si mesmo. Não que tenhamos
respostas, mas em vez de seguir esperando e esperar que piore, o que nos cabe é
indagar.
E em relação a isso, embora não seja uma resposta, é
uma constatação que me parece irrefutável: se não houver eleições, a tendência
é que se radicalize a situação. Dos dois lados. Isso porque o ímpeto dos
golpistas é tal que estão convictos de que podem prescindir para sempre do
diálogo e da pacificação política.
Ocorre que não podem, porque em algum momento o
elástico arrebenta. Não tenho idéia de qual seria esse momento, mas é natural
que ele exista. Pode ser que seja o abismo econômico, uma crise geral do
emprego, uma rebelião ou mesmo um novo posicionamento das classes médias. Pode
ser, inclusive, que uma situação de crise maior leve a uma radicalização das
forças sociais excluídas, com conseqüências que todos sabemos, porque a
história está cheia delas.
O fato é que qualquer movimento de estiramento
requererá, em algum momento, uma recomposição inclusiva das forças políticas. É
por isso que penso que somente eleições livres e democráticas teriam condições
de pacificar o pais. Somente eleições diretas e soberanas garantiriam um
governo legítimo, com capacidade de tentar – diga-se bem, capaz tentar –
colocar ordem neste barco desgovernado que se tornou o Brasil.
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