Pular para o conteúdo principal

Zoos humanos

Falar sobre Fanon evoca o tema dos "zoológicos humanos". É um tema recorrente, sempre falo disso, eu sei, mas, enfim... é um tema que tem um poder tão grande de produzir iAdicionar imagemndignação, sensação de insólito, incredulidade, que fica sendo impossível não falar nele. Aliás, é um tema contundente para o debate sobre a identidade. Na verdade o que me interessa realmente é que o tema dos zoos humanos foram, simplesmente, varridos, banidos, da memória coletiva do Ocidente. Aos olhos de um europeu atual eles parecem um relato de ficção, ou mesmo um episódio eventual. Mas não foram. E precisam ser lembrados. Tratou-se de uma prática recorrente durante décadas e marcou a passagem de um racismo darwinista de índole científica para um racismo darwinista de índole popular. Que dizer de grandes exposições universais que, nos seus zoológicos, mantinham terrenos (na verdade jaulas) nas quais abrigavam etnias humanas? Que dizer que viveiros de achantis situados entre o viveiro dos camelos e o dos zulus? Que, enfim, dizer da distinção social corrente, entre "raças primitivas" e "raças civilizadas"?
O darwinismo social de Gustave Le Bon é a origem dos estereótipos correntes em nossos dias. O impressionante é como essas idéias se tornaram recorrentes, mesmo mudando o objeto. Essa é a essência do trabalho de Fanon: a percepção de como o preconceito, a arrogância e a violência são temas recorrentes, ou seja, estão no fundo ideológico de toda ação social.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

O enfeudamento da UFPA

O processo eleitoral da UFPA apenas começou mas já conseguimos perceber como alguns vícios da vida política brasileira adentraram na academia. Um deles é uma derivação curiosa do velho estamentismo que, em outros níveis da vida nacional, produziu também o coronelismo: uma espécie de territorialização da Academia. Dizendo de outra maneira, um enfeudamento dos espaços. Por exemplo: “A faculdade ‘tal’ fechou com A!” “O núcleo ‘tal’ fechou com B!” “Nós, aqui, devemos seguir o professor ‘tal’, que está à frente das negociações…” Negociações… Feitas em nome dos interesses locais e em contraprestação dos interesses totais de algum candidato à reitoria. Há muito se sabe que há feudos acadêmicos na universidade pública e que aqui e ali há figuras rebarbativas empoleiradas em tronos sem magestade, dando ordens e se prestando a rituais de beija-mão. De vez em quando uma dessas figuras é deposta e o escândalo se faz. Mas não é disso que estou falando: falo menos do feudo e mais do enf...