Esquerdas Brasileiras 2: O PCB 2 - A grande crise 2
No começo dos anos 1980 os comunistas brasileiros não tinham identidade e nem unidade.
O projeto de grupo, quiçá de partido, era debatido abertamente, num movimento que favorecia novas cisões. “Renovadores” como Armênio Guedes, “eurocomunistas” como Marco Aurélio Nogueira, “dissidentes paulistas” como David Capistrano, os Coletivos Gregório Bezerra (CGB) e vários outros grupos, nos estados, regionais ou mesmo locais, acabavam pulverizando o PCB. O apoio dado ao governo Sarney pela cúpula do partido era insustentável, para muitos e humilhante, para alguns, e isso estimulava a cisão interna.
A direção nacional, um grupo à direita, por assim dizer, taxado pelos grupos mais à esquerda de “comodistas acríticos”, evitava atender ao clamor dos militantes pela convocação do 8º Congresso partidário. O congresso anterior não esgotara a discussão interna, o PCB precisava ser repensado, diziam os militantes. Enquanto isso, a cúpula dirigente concentrava sua discussão numa questão que só servia para angustiar ainda mais a militância: quem o partidão deveria apoiar, nas próximas eleições ao governo de São Paulo? Orestes Quércia ou Antônio Ermírio de Moraes?
O congresso foi convocado, enfim, em fevereiro de 1987, logo após as eleições. As teses da convocação, no entanto, simplesmente se recusavam a colocar em debate a concepção estratégica estabelecida, como era a vontade geral.
Nesse momento, talvez, a estratégia petista de formação de tendências internas tivesse sido muito benéfica para o PCB. Imagino que, talvez, ela pudesse canalizar e ordenar o debate, evitando a dispersão que grassava. No entanto, não havia esse dispositivo, e o partido acabou se pulverizando.
O 8º Congresso, realizado em julho daquele ano, aprovou resoluções que não constituíam avanços. Prevaleceu a estratégia etapista de sempre, a noção de “pacto político”. O objetivo maior era a consolidação da democracia no país. Somente depois disso é que uma sociedade socialista poderia ser construída. Com essa perspectiva, tanto o PT como o PC do B subestimavam a importância estratégica da consolidação democrática. Uma postura de oposição sistemática alimentaria o preconceito contra os comunistas, dificultando a aliança popular. O caso do PC do B era mesmo mais grave, porque o partido, na percepção do 8º congresso, permanecia “dogmático e sectário”, dado a práticas de aparelhismo e de golpismo.
O 8º possibilitou algumas concessões à esquerda, mas no geral ficou claro que isso era, apenas, um movimento de acalmar a militância, posto que a aliança com Sarney permanecia intocável e a defesa da “governabilidade” parecia inconsistência com a realidade política do país. Com efeito, o PCB foi o último partido a abandonar Sarney.
Calcificado, alienado em relação às suas próprias heranças à esquerda, o PCB não pôde se sustentar diante do esfacelamento dos regimes comunistas da URSS e do leste europeu. O que estava em crise, ficou claro, já nem era mais um projeto, mas uma simples referência moral, e quando a moral substitui a política, já não há política, já não há nada.
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