Esquerdas Brasileiras 1: O PCB - A grande crise 1
O pensamento marxista se sistematizou, no Brasil, a partir da fundação do PCB, em 1922, esse ano tão emblemático que parece saído de um encontro com o futuro. Havia fluxos de pensamento “de esquerda” antes, muitos dos quais propriamente marxistas; outros dos quais trabalhistas, anarquistas e até babeufianos. No entanto, a fundação do PCB é o marco estruturador que irá conferir espírito e força a muitas gerações que lutaram, no país, por um mundo mais justo.
Até 1956 o PCB foi um bloco sólido, com grande impulso convergente. Um bloco hegemônico. Desenvolveu-se como um filho dileto do pensamento soviético e, como tal, impregnou-se de stalinismo. Sua prática política era centralista e autoritária e sua base filosófica era a teoria etapista da revolução brasileira, ou seja, a idéia de que é preciso percorrer cada etapa histórica para que o país ganhe maturidade para fazer "a sua revolução". Nesse horizonte, o PCB dedicou-se a formar quadros sólidos, de um marxismo erudito e escolástico, incentivando a formação de grupos de estudo e a transmissão de seu saber ao quadros sociais proletários.
Em 1956 veio o impacto das revelações do XX Congresso do PCUS: os crimes do stalinismo. O PCB entrou num vácuo profundo. Um vácuo político. Foi como se sua grandiosidade ideológica se desmentisse. A direção do partido iniciou uma autocrítica, pôs em questão o legado stalinista e rompeu formalmente com esse legado. Porém, 35 anos não se apagam com facilidade, e a estrutura partidária continuou sólida, considerando a democracia uma prática burguesa, restringindo a luta de idéias, expurgando os quadros que não se adequassem à lógica dominante e desprezando todas as lutas sociais que não aderissem ao seu, se assim podemos dizer, academicismo.
Doutrinário, mal concebia que a luta social pudesse se dar no campo, por exemplo. Mal concebia, igualmente, que o movimento operário pudesse se desenvolver sem o apoio de uma bagagem teórica e reflexiva profunda. A teoria etapista dominava o projeto político do PCB e, por essa razão, o partido recusou-se a chamar a sociedade brasileira para a luta contra o golpe de 1964. Optou por uma oposição restrita ao campo das idéias. De certa maneira, coube ao PCB esse ônus histórico...
Nesse contexto, as cisões foram se multiplicando. O PC do B se rebelou contra a resistência do diretório à idéia da luta armada. Influenciado pelo maoísmo, que tinha como um de seus princípios a idéia de que a revolução não precisaria ser feita, necessariamente, pelo proletariado urbano, mas sim pelo campesinato, essa dissidência partiu para a luta armada. Adotou as teses maoístas da “guerra popular prolongada” e do “cerco da cidade pelo campo”. Outra dissidência, o MR-8, adotou, por sua vez, os princípios da guerrilha cubana, e também partiu para a luta armada.
Na etapa posterior da história brasileira, no período da Abertura política e da redemocratização, o PCB, mas também o PC do B e o MR-8 demonstraram, outra vez, estarem arraigados à concepção tática centralista e unicionista que caracterizou o marxismo soviético. Por essa razão, recusaram, conjuntamente, à idéia de formar um “bloco comunista” sob a forma de “partido”. Na sua concepção, sempre etapista, o momento histórico era de formar uma frente de esquerda, reforçar a posição, ganhar quadros, ocupar a máquina e, aos poucos, preparar o país para uma etapa propriamente socialista.
Nesse contexto, a opção foi por aderir ao MDB, percebendo-o como essa frente de esquerda que poderia abrigar os comunistas na sua história de longo curso. Qualquer radicalização era percebida como um elemento de risco. O navio precisaria fazer uma curva aberta, muito aberta, para não naufragar.
O resultado dessa tática foi o apoio ao governo Sarney, a crítica à Central Única dos Trabalhadores (CUT) - mais disposta à radicalização – e o apoio à estruturação de outra central sindical, a Central Geral dos Trabalhadores (CGT). A tese resultante desses movimentos foi a do “pacto social”, algo como um ceder para avançar...
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O pensamento marxista se sistematizou, no Brasil, a partir da fundação do PCB, em 1922, esse ano tão emblemático que parece saído de um encontro com o futuro. Havia fluxos de pensamento “de esquerda” antes, muitos dos quais propriamente marxistas; outros dos quais trabalhistas, anarquistas e até babeufianos. No entanto, a fundação do PCB é o marco estruturador que irá conferir espírito e força a muitas gerações que lutaram, no país, por um mundo mais justo.
Até 1956 o PCB foi um bloco sólido, com grande impulso convergente. Um bloco hegemônico. Desenvolveu-se como um filho dileto do pensamento soviético e, como tal, impregnou-se de stalinismo. Sua prática política era centralista e autoritária e sua base filosófica era a teoria etapista da revolução brasileira, ou seja, a idéia de que é preciso percorrer cada etapa histórica para que o país ganhe maturidade para fazer "a sua revolução". Nesse horizonte, o PCB dedicou-se a formar quadros sólidos, de um marxismo erudito e escolástico, incentivando a formação de grupos de estudo e a transmissão de seu saber ao quadros sociais proletários.
Em 1956 veio o impacto das revelações do XX Congresso do PCUS: os crimes do stalinismo. O PCB entrou num vácuo profundo. Um vácuo político. Foi como se sua grandiosidade ideológica se desmentisse. A direção do partido iniciou uma autocrítica, pôs em questão o legado stalinista e rompeu formalmente com esse legado. Porém, 35 anos não se apagam com facilidade, e a estrutura partidária continuou sólida, considerando a democracia uma prática burguesa, restringindo a luta de idéias, expurgando os quadros que não se adequassem à lógica dominante e desprezando todas as lutas sociais que não aderissem ao seu, se assim podemos dizer, academicismo.
Doutrinário, mal concebia que a luta social pudesse se dar no campo, por exemplo. Mal concebia, igualmente, que o movimento operário pudesse se desenvolver sem o apoio de uma bagagem teórica e reflexiva profunda. A teoria etapista dominava o projeto político do PCB e, por essa razão, o partido recusou-se a chamar a sociedade brasileira para a luta contra o golpe de 1964. Optou por uma oposição restrita ao campo das idéias. De certa maneira, coube ao PCB esse ônus histórico...
Nesse contexto, as cisões foram se multiplicando. O PC do B se rebelou contra a resistência do diretório à idéia da luta armada. Influenciado pelo maoísmo, que tinha como um de seus princípios a idéia de que a revolução não precisaria ser feita, necessariamente, pelo proletariado urbano, mas sim pelo campesinato, essa dissidência partiu para a luta armada. Adotou as teses maoístas da “guerra popular prolongada” e do “cerco da cidade pelo campo”. Outra dissidência, o MR-8, adotou, por sua vez, os princípios da guerrilha cubana, e também partiu para a luta armada.
Na etapa posterior da história brasileira, no período da Abertura política e da redemocratização, o PCB, mas também o PC do B e o MR-8 demonstraram, outra vez, estarem arraigados à concepção tática centralista e unicionista que caracterizou o marxismo soviético. Por essa razão, recusaram, conjuntamente, à idéia de formar um “bloco comunista” sob a forma de “partido”. Na sua concepção, sempre etapista, o momento histórico era de formar uma frente de esquerda, reforçar a posição, ganhar quadros, ocupar a máquina e, aos poucos, preparar o país para uma etapa propriamente socialista.
Nesse contexto, a opção foi por aderir ao MDB, percebendo-o como essa frente de esquerda que poderia abrigar os comunistas na sua história de longo curso. Qualquer radicalização era percebida como um elemento de risco. O navio precisaria fazer uma curva aberta, muito aberta, para não naufragar.
O resultado dessa tática foi o apoio ao governo Sarney, a crítica à Central Única dos Trabalhadores (CUT) - mais disposta à radicalização – e o apoio à estruturação de outra central sindical, a Central Geral dos Trabalhadores (CGT). A tese resultante desses movimentos foi a do “pacto social”, algo como um ceder para avançar...
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Abraços
se alia à burguesia e apóia a patronal./ Mas na Revolução, / não vai sobrar nenhum,/ não vai sobrar nenhum, nenhum, nenhum, nenhum, nenhu!."