No dia 31 de março passado o Ministério das Comunicações publicou a Portaria n. 290, que institui o Sistema Brasileiro de Rádio Digital (SBRD). Trata-se de uma nova etapa no longo caminho da definição do padrão de rádio digital a ser adotado no Brasil. A questão é vital para a comunicação radiofônica, porque define como ele será no cenário de convergência midiática que já descrevi aqui.
As diferenças técnicas trazidas pelo rádio digital são a melhoria da qualidade do som, sobretudo na AM; o acréscimo de funcionalidades aparelho receptor, tal como a disponibilização de dados e serviços complementares e a convergência em relação aos dispositivos tecnológicos que permitem a conexão com outros meios dentro da mesma linguagem digital.
A Portaria descreve os valores que devem balizar a escolha de soluções tecnológicas para a digitalização das emissões por rádio no Brasil. Não se trata, ainda, da definição do sistema a ser usado, mas do estabelecimento dos padrões que devem nortear essa escolha.
Mas é aí que está o grande problema.
O problema é de natureza técnica, mas tem implicações políticas e econômicas imensas. Dois grandes sistemas estão sendo testados pelo governo brasileiro: o DAB (Digital Audio Broadcasting), europeu, e o In-Band-On-Chanel (IBOC), também chamado HD Rádio, norte-americano. Ambos apresentam deficiências. O DAB é prejudicado em ambientes com grande densidade de tráfego de carros e é com freqüência interrompido diante de barreiras de concreto, como zonas com concentração de prédios. Por sua vez, o IBOC, muitas vezes chamado também de HD Radio, tem um sinal mais baixo que o analógico.
Ocorre ainda um fator complicador: o DAB possui diversas variações tecnológicas, que precisam ser testadas individualmente, coisa que o Ministério das Comunicações não está fazendo a contento. São elas o DMB, DRM, FMeXtra e o ISDB-TSB.
Dentre eles, o DRM, Digital Radio Mondiale, outro padrão europeu, parece ser particularmente interessante para o espaço amazônico, por suas características de longo alcance.
A escolha do sistema a ser usado no Brasil precisa levar em conta, obviamente, a experiência brasileira, a maneira como os brasileiros usam o rádio, bem como a variedade social desse uso. Em geral se esquece que o rádio é um veículo de comunicação fundamental para a sociedade amazônica e se pensa, somente, no seu uso urbano, no padrão “FM”.
Esse debate precisa ser feito, e logo, porque estima-se que dentre de no máximo dois meses o Governo Federal deverá escolher qual o sistema que vai ser usado no país.
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