A conta pela expansão acelerada dos gastos públicos chegou e o governo anuncia um enxugamento recorde. A dúvida é se o corte será realmente cumprido
Os últimos quatro anos da gestão Lula foram de prosperidade. As despesas do governo cresceram 59% no período. Especialmente em 2009 e 2010, como uma maneira de combater a crise econômica mundial. A estratégia fez efeito. O impacto da crise no Brasil foi pequeno se comparado ao resto do mundo. Em 2010, o crescimento já havia sido retomado, enquanto outros países até hoje se debatem em meio à derrocada internacional. Desde o ano passado, porém, economistas alertavam sobre a necessidade de conter os gastos para evitar problemas de outra natureza, como inflação e desequilíbrio nas contas públicas.
Durante a campanha eleitoral, a então candidata Dilma Rousseff negava a necessidade de ajustes. Na semana passada, o óbvio aconteceu. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anunciaram um plano para cortar R$ 50 bilhões nos gastos previstos no Orçamento da União para este ano.
Ao rever as despesas, o governo reduziu a estimativa de receita, de R$ 819 bilhões para R$ 801 bilhões. Também jogou para baixo o crescimento da economia esperado para 2011 (de 5,5% para 5%). Ainda deixou em aberto a possibilidade de que esse crescimento seja ainda menor. Com essas revisões, o governo Dilma emite um sinal de que quer reforçar o compromisso com a austeridade fiscal. O corte, se bem executado, poderá aliviar a pressão inflacionária e, assim, abrir caminho para a queda das taxas de juros. No futuro, poderá possibilitar aumento dos investimentos públicos. O objetivo é nobre; o remédio, amargo.
Embora pareça enorme, o corte anunciado de R$ 50 bilhões é relativamente pequeno perto do montante de despesas obrigatórias da União. Previdência, pessoal e outros itens intocáveis beiram R$ 545 bilhões, 74% das despesas previstas no Orçamento.
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