Na Época desta semana há um relato dramático do roteiro da queda de Roger Agnelli da presidência da Vale. Um trecho:
– Roger, espera! Este é um assunto de acionistas. E está sendo tratado por nós, acionistas.
Com o braço direito estendido e a mão espalmada, Ricardo Flores, presidente do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ, dirigiu a frase em novembro passado a ninguém menos que o diretor presidente da maior exportadora do Brasil, a Vale. Falou num tom de voz sereno, mas incisivo. O palco era a reunião do Conselho de Administração da empresa. Testemunharam a cena, não sem algum mal-estar, todos os representantes dos acionistas. O alvo era ele mesmo: Roger Agnelli, o executivo que, num período de dez anos, transformou uma antiga estatal depauperada na segunda maior mineradora do mundo e num dos símbolos da ascensão brasileira nos mercados globais.
O episódio revela como a situação de Agnelli no comando da Vale ficou insustentável. Antes visto como uma espécie de monarca absoluto na condução da mineradora, seu poder vem sendo desafiado seguidamente nos últimos meses por pessoas ligadas ao governo federal. Há pouco mais de uma semana, segundo noticiou o jornal O Estado de S. Paulo, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, foi até o Bradesco informar que o Palácio do Planalto pretende substituir Agnelli em breve. Foi o Bradesco que, como acionista, indicou aquele que em 2001 era um de seus executivos mais promissores para presidir a Vale – e, desde então, sempre deu respaldo a sua gestão.
Nos últimos tempos, porém, os sinais que partem do banco não são animadores para Agnelli. Seus constantes choques com o governo Lula e com o PT não foram bem recebidos no Bradesco, onde impera uma cultura de relação discreta com a política.
Comentário do Hupomnemata:
A matéria sugere que o governo não deveria se imiscuir nos assuntos da Vale. Mas deve. O governo deve, sim, manifestar seus interesses de Estado que dizem respeito à mineração e à atuação internacional de uma empresa brasileira do porte da Vale.
Afinal, ainda que seja contra os interesses do mercado, é interesses da nação que a Vale, em vez de, simplesmente exportar o minério de ferro, passe a produzir aço no país. Que a vale, em vez de adquirir gigantescos navios produzidos na China, adquira gigantescos navios produzidos no Brasil. E que a Vale, em vez de adquirir um jatinho canadense para o uso de seu presidente, compre-o da Embraer, empresa brasileira que os produz, inclusive, com mais qualidade que a congênere canadense.
Não vivemos mais sob a égide dos governos militares e tucanos, ambos incompetentes e anti-democráticos, que gestavam os interesses nacionais como interesses privados. O governo do PT tem mais equilíbrio por um motivo: abriu mais espaço para o controle social. Se intervém na Vale não é porque representa interesses de classe ou de grupo, mas sim porque a Vale, como toda empresa, deve estar sempre consciente de que tem uma missão a cumprir que não é apenas a de dar lucro a seus acionistas.
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abs
C.