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IV. A questão da identidade. Alguns idéias gerais para caminhar na direção do específico.
Como disse antes, identidade não é a mesma coisa que cultura. A representação social da cultura concebe a identidade como o núcleo da cultura. Como se a condição para que alguém tenha cultura seja ter identidade. Penso poder afirmar que essa correlação não é verdadeira. E que identidade e cultura não são coisas necessariamente correlatas.
Mais identidade não significa mais cultura. Menos cultura não significa menos identidade. Por que? Porque, como disse antes, cultura é um processo do presente algo que só existe enquanto nexo hodierno. E identidade... ora, identidade também. São dois fenômenos sociais dinâmicos. Tal como a cultura, a identidade só ganha sentido enquanto movimento de autorreferência, enquanto processo de identificação.
Cultura e identidade são fenômenos inventivos, são realidades ficcionais – e para usar expressão de Cardoso de Oliveira (1967), são realidades friccionais. Ou seja, que se ralam, se relam, se relacionam, mutuamente reinventando-se e produzindo-se. Não se pode “herdar” cultura ou identidade, simplesmente, passivamente, mas sim reinventar heranças. Ou ainda, reivindicar heranças. Naturalmente que não se parte do zero: há contextos de sentido a fazerem sentido, e há a experiência dos contemporâneos, a somar-se a esses contextos de sentido. Porém o ato de produzir nossa realidade não é simplesmente, um ato de reproduzir a realidade dos predecessores; é um ato de resignificá-las. Por isso, em função da relatividade inerentes às duas noções não se pode referi-las como complementares.
É possível citar dezenas ou mesmo centenas de exemplos desse padrão de fenômenos. Ou melhor, de sua não-complementariedade. Um deles, uma apenas, para não sermos extensos, é a formação histórica da identidade mapuche, um grupo indígena andino, que se espalha entre o Chile e aArgentina.
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