A apropriação da imagem de Ruy Mesquita, um conservador "maior", pelos pequenos conservadores da Globo e do Grupo Abril
Como em quase todos os dias,
comecei minha jornada acompanhando os jornais e noticiários pela internet. Vendo de longe do país, fiquei espantado em ver como a notícia da morte de Ruy Mesquita, il capo do Estadão foi manipulada, pela
Globo, Abril, Band, Folha e a pela maioria dos grandes veículos da imprensa
brasileira no sentido de mitificar, por meio da sua figura, um punhado de
valores conservadores que andam servindo para mascarar o cinismo do
patrimonialismo dessa gente.
Uma coisa são os “valores
conservadores”, de gente como Ruy Mesquita, inclusive. Outra coisa, bem
diferente, é o patrimonialismo cínico da maior parte das elites brasileiras.
Ruy Mesquita era um
conservador, um membro autêntico das elites paulistas, sim. Mas era um homem
com valores éticos, com bom senso. Há múltiplos depoimentos de jornalistas
corretos e, sobretudo, de jornalistas corretos de esquerda, nesse sentido.
Isso é uma coisa bem diferente
desse tipo de apropriação da sua imagem que a Globo e o grupo Abril, sobretudo,
fizeram. Tornaram-no um mito, um emblema, de uma visão de mundo que emprestam
como máscara, mas que não é a sua. Ao elogiarem o conservadorismo de Mesquita
pretendem se beneficiar, com o velho truque a analogia “silenciosa”, de uma
coerência que não é a sua. E, por resultado, nivelam Mesquita por baixo.
Roberto Marinho e Roberto
Civita jamais tiveram a dignidade de Ruy Mesquita.
É preciso separar o joio do
trigo.
Da mesma maneira, o papel do
grupo Estado foi, historicamente, diferente do papel da Rede Globo e do Grupo
Abril. O Estadão surge, ideologicamente, de um projeto de elite específico,
comprometido com uma modernização e com uma industrialização do país cuja raiz
está no final do século XIX. Em nome desse projeto – com o qual podemos não
concordar, mas devemos reconhecer a coerência – rompeu com Vargas e, em
seguida, rompeu com o regime militar. E suportou as consequências.
A Globo e os Civita sempre
puseram o rabo entre as pernas, acataram e reproduziram o discurso do mais
forte – não importa qual fosse ele.
Não que o Grupo Estado não tenha
cometido erros, pecados e mesmo que não tenha sido contraditório, inúmeras
vezes, em relação a essa mesma coerência que aponto. Apoiar o golpe de 64 e dar
voz aos tucanos, sobretudo a José Serra, são exemplos disso.
Mas há uma grande diferença a
considerar.
E é por dever-se considerar
essa diferença que soa como mau-caraterismo de primeira que essas empresas
medíocres de comunicação venham fazer ladainha para chorar o morto dos outros.
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