Uma
declaração do secretário especial de promoção social do Governo do Pará, Alex
Fiúza de Mello, a respeito do movimento Chega!
– que reúne artistas paraenses num imenso protesto contra a política cultural
do PSDB e à atitude elitista do secretário de cultura, Paulo Chaves Fernandes –
provocou uma reflexão coletiva importante durante todo o dia de hoje.
A
declaração diz respeito à ideia de que o movimento é "manipulado por
certas correntes políticas". A reflexão construída, nas redes sociais, é
sobre o fato de que os artistas e produtores culturais paraenses não estão
reunidos em torno de bandeiras partidárias, mas sim em torno de causas públicas
relacionadas à cultura.
Como
disse antes, o movimento Chega!
merece ser saudado como uma mobilização da sociedade civil em torno de causas
políticas maiores, e não em torno de interesses eleitorais ou partidários.
E
isso faz toda a diferença.
Penso
que todas as políticas públicas possuem uma dimensão suprapartidária e como tal
devem ser pensadas, inclusive pelos partidos, pelos políticos e pela militância
dos partidos.
Isso
não quer dizer que a causa cultural, ou qualquer outra causa, seja apartidária,
mas, simplesmente, que é preciso dialogar para além das caixinhas de interesses
localizados.
O
partido político, conquanto possua mecanismos internos que permitam o debate
verdadeiro, é um grande instrumento de construção e transformação da sociedade,
mas ele não é maior que a realidade e que a complexidade da formação social.
É
aqui que entra a importância da organização da sociedade civil, por meio dos
movimentos sociais, dos movimentos de categorias, dos sindicatos e das
organizações.
São
construções que permitem o diálogo, a preservação da memória das reivindicações
do passado e a construção de “longa duração”, que nos permite irmos além dos
governos e dos momentos e pensarmos na sociedade como algo que inicia antes de
nossos umbigos e que continua além de nós.
Pensemos
na cultura, por exemplo: a política cultural, enquanto política de Estado,
precisa ter continuidade do que é considerado importante pelo debate público e
precisa ter mecanismos de correção dos erros, dos enganos e dos falsos passos
que, evidentemente, estão presentes em toda caminhada política.
Está
na hora de pensar em políticas públicas como conquistas duradouras, para que o
que seja importante possa ser continuado e o que esteja errado possa ser
corrigido.
Portanto,
o secretário especial do Governo Jatene, Alex Fiúza de Mello – meu colega de
UFPA e com quem tenho o privilégio de, há vários anos, discutir sobre assuntos de
interesse público – não está certo em afirmar que o movimento é
"manipulado por certas correntes políticas".
Isso
não é verdade.
Eu,
que sou filiado ao PT – e que procuro não me omitir na hora de contribuir com a
construção coletiva desse partido, fazendo a crítica de suas ações e mesmo a
autocrítica das minhas próprias ações nesse coletivo – me sinto inteiramente à
vontade para apoiar o movimento Chega!
E para contribuir para construir um debate sobre a “longa duração”.
A
política cultura deve ser vista como política de Estado.
Os
governos passam, o Pará não. O Pará continua.
É
por isso que, independentemente de filiações partidárias ou de não filiações
partidárias precisamos construir o debate coletivo, o debate público. Construir
pautas, reflexões, propostas que possam ter “longa duração” na nossa vida
comum, porque a sociedade é variada, múltipla e complexa. Dentro dela há espaço
para todos, conquanto preservemos o bom senso e humildade para reconhecer os
erros e acertos que são comuns a todos.
Vida
longa, “longa duração”, ao Chega!
Que
ele possa expurgar o que é o mal, o que é o torpe e mesquinho. Que ele possa
expurgar essa visão de mundo elitista e politiqueira que assola nossa políticas
de Estado na área cultural.
Que
ele possa produzir construções coletivas que pautem as futuras gestões da
política cultural no Pará.
“Longa
duração”, ao Chega! “Longa duração”
à cultura e ao Estado paraense.
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