Há mês e meio estou entreavado em operações
de retorno, arrumando cá e lá as boas e as más fadas que há, ruminando
lerdamente os afazeres, tirando o pó dos livros e dos móveis da casa, ainda
abrindo os baús que vieram da viagem e encontrando lugar para as muitas
cascalhices que, na forma de coisas, vou acumulando sem tê-las onde por. Um mês
e meio para adaptar um ano e meio fora de Belém. Assistindo desinteressadamente
aos jogos da Copa, vendo as gentes que passam, espiando as movimentações de ano
eleitoral e exercitando minha paciência lá na UFPA. Escrevendo artigos,
pongando as suas tramas, ultimando acertos e me preparando para assumir a
coordenação do mestrado em comunicacão. Revendo as gentes:
- Voltaste para o ano eleitoral!
- Não, voltei porque era hora de voltar,
acabei o pos-doc, tinha que voltar.
O sujeito me olhando desconfiado, com caras
de
“Sei, sei!”
Um outro, sabedor dos desafios e dos
confrontos lá por aqueles largos corredores da UFPA, um colega, me deseja sorte
e, estatelando um abraço ruidoso, diz:
- Conta comigo!
E franze o cenho. Mais baixo que eu, me olha,
sem piscar, por cima das lentes dos seus óculos e rediz:
- Conta comigo!
A dona Maria, que nos ajuda a manter asseada
a universidade, logo observa, ao me ver:
- O senhor engordou, professor!
E ri-se. Ri e continua a operação delicada de
limpar uma porta.
Mais à frente, uma alma silenciosa, dessas
que nunca falam conosco mas que são atentas a tudo o que se passa ao redor, e
que costuma produzir pessimismos, pensa (e eu leio seus pensamentos):
- Credo, como envelheceu o professor Fábio!
Me vêm à mente, não sei por quê, uns
versinhos de Drummond:
“É preciso escrever um poema sobre a Bahia,
mas eu nunca fui lá!”.
Desconheço minhas razões, mas esses versinhos
me vieram à mente e aqui ficaram.
Depois sumiram. E depois voltaram.
Um ex-aluno, desses que permanecem amigos,
então, me perguntou:
Por que não retomas o blog? De verdade,
diariamente?
Consultei a dona Maria.
“A senhora acha que devo retomar o blog?”
“Acho”.
Consultei em seguida meu colega, o professor
de outra faculdade que disse que eu pode contar com ele.
“Achas que devo retomar o blog?”
E ele pôs uma mão em meu ombro, novamente me
olhou, sem piscar, por sobre seus óculos e, com sua voz concentrada de barítono
aposentado, disse:
“Acho!”
Então, ainda que relutantemente, eu consultei
aquela funcionária com espírito pessimista:
“E tu, pelo que vales, achas também que devo
retomar o blog?”
“Acho! Mas que envelheceste, envelheceste”.
Retornar é tarefa delicada. Exige disposição,
coerência e saúde dos rins. Retornar a Belém, violenta como anda; retornar ao
mundo que anda e continuous a andar quando andávamos fora; retornar aos antigos
projetos... Retornar e desempeirar os livros e a casa... Retornar e recomeçar,
quase do zero, tantas coisas deixadas... Retornar à condição coletiva de
precisar-pensar-sobre-estas-coisas... Retornar ao hipax do mundo, ao ventre, a
todas estas cidades invisíveis que flutuam ao redor...
E retomar o blog.
Ok, de vez em quando estive publicando alguma
coisa, mas sem a constância de antes. E blog é constância. Sei que a função dos
blogs mudou, neste tempos de dominância do Facebook, mas evidentemente ainda há
espaço para a boa troca de ideias, para textos, para opinião...
Isto posto sigamos em frente. Retornemos.
Retornemos seguindo em frente.
E quem sabe aonde?
Comentários
Tenho certeza!
"Te espero" por aqui.
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