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Quebrando a ordem da cultura oficial: a ocupação do Solar da Beira, o grupo Proa e outros.


A ocupação do Solar da Beira por artistas, durante 19 dias, foi uma das coisas mais importantes, do ponto de vista da mobilização social – e, portanto, da política – que aconteceram em Belém nos últimos anos.
Pena que acabou. E pena que acabou desse modo: com uma ação judicial de “retomada” (sic) de posse amparada por uma ação policial. Não precisava de tanto. E esse “tanto”, que tanto pecou pelo excesso, apenas prova a inabilidade do poder público para realizar políticas sociais, em particular políticas culturais.
O prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, do PSDB, não precisava desses arroubos de autoritarismo: podia negociar, deixar a galera no Solar da Beira, fazer do limão uma limonada, como se diz. Mas a pulsão autoritária está no DNA do seu partido.
No que tange às políticas culturais, esse DNA é nítido. O Pará padece há cinco governos com a falta de gestão de cultura do Governo do PSDB. Com o mesmo secretário, com as mesmas figuras, com a mesma arrogância elitista que não aceita dialogar com a sociedade sobre política cultural, que não aceita democratizar e regulamentar o acesso aos recursos para a cultura e que não aceita qualquer forma cultural que não caiba na sua compreensão, reduzida e restritiva, do que é a cultura.
Nesse cenário, a ocupação, pacífica e ordenada, do Solar da Beira, foi um acontecimento da maior importância. Significativo enquanto mobilização e enquanto ação.
Da mesma maneira, é preciso reconhecer o movimento Proa, um grupo cultural, dentre tantos que há em Belém, que tem sua principal ação na articulação de artistas e produtores em torno de uma agenda de reivindicações no campo da política cultural, notadamente a implementação do sistema estadual de cultura.
Fui ao evento que o Proa organizou na Praça da República na sexta-feira passada em torno dessa agenda – com um show público delicioso de dona Onete, da Gina Lobrista e da Gangue do Eletro, dentre outros.
Apesar de achar que faltou uma perspectiva mais política no evento, algumas falas mais contundentes e, por exemplo, um panfleto esclarecendo a agenda de suas reivindicações, reconheço que é um começo – ou uma continuação, talvez.
Há dois anos tivemos uma forte mobilização, em torno dessa mesma agenda, com o movimento Chega!, que aglutinou centenas de artistas e intelectuais num protesto com várias ações públicas espalhadas ao longo várias semanas, em protesto ao autoritarismo da política cultura do PSDB.
São bons ventos, todos esses, mas a inflexibilidade e a insensibilidade do governo, no campo da cultura, costuma fechar as janelas aos bons ventos.
Por isso mesmo é preciso repetir todas essas ações. É preciso que o Pará entre na normalidade das políticas culturais. 
Um bom exemplo, que prefeitura de Belém e Governo do Estado deveriam seguir é o processo de construção da Política Nacional das Artes, puxada pela Funarte, que inicia no próximo dia 9 de junho, e que tem por objetivo reunir artistas dos diversos campos e linguagens artísticas em torno de um processo colaborativo, em plataformas digitais, de organização dos fundamentos dessa política.
Sim, é claro que, como todos sabemos, palavras como “colaborativo” e “reunir artistas” não são toleradas nos governos do PSDB. E daí a necessidade de reunir, agregar, debater as agendas da cultura e reivindicar, sim, que essas posturas autoritárias sejam revistas.

Comentários

Anônimo disse…
Oi Fábio, obrigado por seu apoio ao movimento. A solução, como você diz, é ligar as pessoas e fortalecer a visibilidade desse processo. Só juntos vamos conseguir evidenciar o autoritarismo do governo do estado e da prefeitura de Belém.
Jorge.

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