Partidos, tendências de partidos e indivíduos "de esquerda" estão convocando a população para um ato público em defesa da democracia que ocorre hoje, primeiro de abril. Suprema contradição: querem a democracia "com golpe".
Pois é. Quando se pensa que já se viu de tudo... O argumento dessa gente é que o Brasil já vive numa ditadura e que não há diferença entre o "estado de direito do PT" e o golpismo oportunista das elites. E que não há diferença entre as eleições diretas que elegeram o governo Dilma com 54 milhões de votos e o movimento de apropriação jurídica do poder feito pelo conluio Rede Globo / PSDB / Elites.
Ao fazer esse jogo, essa parte do Psol que apoia o golpe, bem como o PSTU e outros se colocam, se inscrevem e se maculam como instrumento útil para o golpismo.
Compreendo perfeitamente as justíssimas críticas que fazem ao Governo Dilma e ao PT. São críticas justas e pertinentes, que merecem reflexão e autocrítica do governo. Porém, daí a entrar no jogo do golpismo é uma variação que não se pode compreender.
Esse tipo de atitude só pode ser entendido como um oportunismo de primeira grandeza: o oportunismo de quem espera se beneficiar dos escombros políticos do PT, no caso do golpe. Um proselitismo. É o oportunismo da carcaça.
A Luciana Genro é o maior exemplo desse oportunismo e do servilismo à direita ao qual ele leva. Que decepção...
Mas o mais interessante é que esse tipo de oportunismo se constrói por meio de um argumento antigo, de base cristã, que contamina as esquerdas e uma parcela importante da população brasileira: a ideia de que o poder contamina e de que, para ser "de esquerda", é necessário permanecer imaculado do contágio do poder. Trata-se da ideia de que o poder é, iminentemente, algo negativo, e que sempre estará a serviço dos poderosos.
Manipulando esses símbolos e valores, o "golpismo útil" dessa parte do Psol e do PSTU passam a ideia de que são vestais de um compromisso virginal com o poder. Como se tal coisa fosse possível...
O Psol têm certa vocação para vestal, para semideusa, ou para a virgindade absoluta. O Psol é pudorento e hesitante em relação ao mundo real. Condena o poder e finge evitar experimentá-lo. Porém - e esta é a questão absoluta - como sabe se, realmente, está-se imune e à prova do poder se ainda não se o experimentou?
Ora, as deusas, gregas ou não, sempre se dividiram entre o time das que elogiam o encontro - com o masculino, com o mundo da vida, com a matéria - e o time das que o repudiam.
O poder contamina? Evidentemente! É a característica mais universal do poder. Em todos os tempos, em todas as sociedades, o poder sempre contaminou. Porém, por outro lado, a virgindade não, necessariamente, purifica. É preciso considerá-lo.
E também é preciso perceber que contaminação não é uma palavra necessariamente negativa, porque pressupõe troca, encontro, simbiose, síntese, experiência e diálogo. Da mesma forma, também é preciso perceber que virgindade não é uma palavra necessariamente positiva, porque pressupõe a ausência da experiência.
Isto considerado, é preciso perceber que não é possível fazer política sem lidar com o poder. Os altos cumes do Psol e do PSTU sabem disso. Suas bases militantes não o sabem. Deixam-se manipular facilmente e, facilmente, vão hoje clamar, na sua dubiedade, pelo golpismo da direita.
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