Pular para o conteúdo principal

E o PT, hein?

O que dizer quando o Diretório estadual do PT libera a formação de alianças com o PMDB e quando libera seus militantes para permaneceram com DASs no governo Temer? Como explicar essas contradições a um militante, a um simpatizante ou mesmo a alguém que, não sendo do PT, sente respeito pelos compromissos do partido e repudia o golpe de estado em curso?

Como se sabe, isso ocorreu no último sábado e é oficial: o Diretório Estadual do PT, no Pará, decidiu. Fazendo um jogo de palavras (esse recurso que infesta os documentos politicamente comprometedores) deixa de "determinar" para "orientar" os militantes ocupantes de cargos comissionados no governo golpista a pedirem sua exoneração. Em outro momento, admite e mesmo facilita a manutenção de alianças com o PMDB.

Pois é. Não dá para explicar. Confesso que estou chocado e impressionado com o nível político do dessas decisões, que convertem em lixo todo o patrimônio simbólico e ético que sustenta a permanência de muita gente de bem no partido. Evidentemente, a maior parte da militância é contra essas decisões, mas há muito que o PT esquece (convenientemente) de ouvir a sua militância.

Decisões desse tipo ferem as lutas e o esforço que estamos empreendendo neste momento histórico de luta contra o golpe e no qual nossa melhor arma é, simplesmente, a coerência de posições.

Aliás não é por outra razão que critico o apoio que setores do PT estão prestando ao projeto de poder do PMDB na UFPA neste exato momento. A conveniência desse apoio silencia a coerência. E embora haja partidos que prescindam de coerência, não é possível ter um partido sério, na esquerda, que abra mão de seus critérios básicos de ética e coerência.

Aí sim dá para perceber uma ferida perigosa, talvez uma ferida de morte.

Digo isso porque o PT não acaba e nem se degrada porque Dilma foi afastada. O PT não acaba e nem se degrada diante da campanha vilipendiosa que a mídia e o campo conservador estão fazendo contra ele. Ele acaba e se degrada quando apoia o PMDB. Ele acaba e se degrada quando militantes que ocupam DASs não entregam os cargos e aceitam fazer parte do governo golpista. Ele acaba e se degrada quando militantes e mesmo intelectuais do partido fecham os olhos para o que se passa o país - e, é claro, na UFPA - quando é por pura conveniência, interesse eleitoral, individualismo. 

Post-scriptum de 02 de junho: 

Vejam a continuação deste post aqui.

Comentários

Anônimo disse…
Concordo. Em relação à UFPA é ainda mais grave. A universidade ficou despolitizado e a culpa é do PT, que faz esses acordos espúrios à revelia de tudo o que está acontecendo no país. Aproveito para perguntar quem, que professor, que aluno, está participando do Ocupar a República? O Tourinho passa longe. A Vera Jacob dá risada...

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

Comentário sobre o Ministério das Relações Exteriores do governo Lula

Já se sabe que o retorno de Lula à chefia do Estado brasileiro constitui um evento maior do cenário global. E não apenas porque significa a implosão da política externa criminosa, perigosa e constrangedora de Bolsonaro. Também porque significa o retorno de um player maior no mundo multilateral. O papel de Lula e de sua diplomacia são reconhecidos globalmente e, como se sabe, eles projetam o Brasil como um país central na geopolítica mundial, notadamente em torno da construção de um Estado-agente de negociação, capaz de mediar conflitos potenciais e de construir cenas de pragmatismo que interrompem escaladas geopolíticas perigosas.  Esse papel é bem reconhecido internacionalmente e é por isso que foi muito significativa a presença, na posse de Lula, de um número de representantes oficiais estrangeiros quatro vezes superior àquele havido na posse de seu antecessor.  Lembremos, por exemplo, da capa e da reportagem de 14 páginas publicados pela revista britânica The Economist , em...