O marxismo ocidental 3: Georg Lukács
Bom, vamos falar de Lukács. Vou tentar falar dele em trinta linhas, mas não vou fazer um resumo biobibliográfico. Vou falar do que, na obra dele, é, para mim, uma herança à esquerda. Tentemos. O central é um tipo de fenômeno social, sempre presente nas análises de Lukács, que é o estranhamento (Entfremdung). Esse fenômeno tem raiz nas dinâmicas sociais, ou seja, na história (até aqui é marxismo clássico, mas já vai mudar), e pode ser entendido assim: aquilo que faz com que mesmo que as condições e capacidades humanas sejam elevadas pela transformação das forças produtivas e da sociedade, o ser humano pode se tornar baixo, vil, pobre. Dizendo de outra forma: ainda que o ser humano saiba, veja, esclareça, isso poderá não ser nada, não levar a nada. E isto já não é marximo. Perde-se a compreensão da história como moto-contínuo, onde reside o perigoso e inócuo determinismo marxista. E por que isso assim se dá? Porque há um embate entre objetivação e alienação que se dá conforme o ambiente no qual ocorre.
E aqui o marxismo ocidental, pelas mãos de Lukács, faz uma vigorosa e fundamental superação do determinismo marxista: um fenômeno de estranhamento não é categoria geral, suprahistórica, mas o contrário disso: uma categoria que se produz de forma variável, unicamente no plano das relações humanas. Não há uma objetivação final e nem, tampouco, um alienação absoluta, mas sim múltiplos processos, paralelos e sucedâneos. Uma "antítese dialética", para usar um jargão de Lukács, sem esquecer que também Marx usou com abundância o termo Entfremdung, notadamente para explicar sua noção de alienação: quanto mais produz um trabalhador, mais cresce esse mundo estranho, de mercadorias, que o envolve e, em conseqüência, mais desumanizado e miserável o trabalhador fica. É dessa análise de Marx, penso, que parte a força da obra de Lukács, ainda que pelo caminho insuspeito que referimos.
Em Lukács as pessoas são, portanto, vinculadas ontologicamente às sociedades em que vivem. Isso quer dizer que há, nelas, uma dimensão intrapsíquica. Isso é, precisamente, o que eu chamo, no meu próprio trabalho, de intersubjetividade.
Lukács diz que "não há nenhum tipo de subjetividade que não seja social nas suas raízes e determinações mais profundas". E dá alguns passos mais a longe, observando que os processos de estranhamento, pelo fato de que são, por tudo o que dissemos, fundamentais para todo processo de individuação, têm uma relação imbricada com os processos de socialidade. Por que isso? Porque o sujeito social não é apenas o ...que ele é. Não se é o que se é sem refletir sobre isso, o que faz com que sejamos o produto da confrontação entre nossa objetivação de uma realidade específica e vivenciada e os modelos genéricos que mediam essa objetivação – nem precisa dizer que como pouquíssima objetividade... Eis o resumo.
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