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Reflexão sobre essa proibição

O parlamento francês aprovou, há duas semanas, um projeto de lei que proíbe o uso da burca em lugares públicos.  Essa lei é um imenso equívoco.  À pretexto de defender o direito feminino de não se deixar subjugar por práticas machistas, a lei toma, das mulheres, o direito, por sinal básico, da livre expressão, inclusive religiosa e, inclusive, étnica. À pretexto de defender a pluralidade social, essa lei idealiza uma padronização da sociedade, podendo levar a uma situação de isolamento cultural. O governo francês deveria perceber o que está na frente de seus olhos, algo que não vê porque está tomado por preconceitos culturais: nem o espaço público e nem as pessoas são “neutros” em relação à cultura. Por isso, usar a burca não significa, necessariamente, obrigatoriamente, ter uma condição submissa em relação aos maridos e pais. Usar a burca na França não vem a ser, exatamente, a mesma coisa que usar a burca em países que possuem leis que defendem a violência masculina machista. Essa lei encapuça um país que já deu ao mundo exemplos históricos de tolerância, escondendo dos franceses uma realidade que poderia ser considerada maravilhosa, viva e intensa se não fosse sua pretensão inócua e conservadora à homegenização. Refiro-me à realidade do multiculturalismo. A cultura é um rio que passa. Tudo muda, tudo fica para trás, porque isso é a condição para que outras coisas venham e aconteçam.

Comentários

Blog disse…
Fabio,
Por mais idiota que seja minha fala agora, digo: tinha exatamente a mesma opinião. Foi algo como jogar a favor com argumentos contra. Nessa situação os franceses foram mais franceses que o normal.
Lindalva disse…
Professor Fabio, parabens por sua opiniao e obrigada por se posicionar a respeito dessa questao, que apesar de nao ter muito sentido para nos, brasileiros, tem uma imensa representatividade para todos que lutam pelo direito das mulheres e por uma sociedade justa. Temos que separar o joio do trigo para poder entender corretamente o que esta por tras da lei que o senhor menciona.
Lindalva.
Blog disse…
Por mais idiota que seja minha fala agora, digo: tinha exatamente a mesma opinião. Foi algo como jogar a favor com argumentos contra. Nessa situação os franceses foram mais franceses que o normal.

Glauber
zcarlos disse…
Olá Fábio,
Veja o link abaixo, tem um presente pra vc.
Abs!
zcarlos

http://contextolivre.blogspot.com/2010/08/selo-de-ouro.html
Tatiana Ferreira disse…
Pior é essa situação confirmar o de sempre: essas mulheres jamais podem escolher o que vestir e o que fazer com seus corpos e suas vidas. Tanto na obrigatoridede de usar a burca nos seus países de origem como na proibição que agora acontece na França, elas simplesmente não têm poder de escolha. Triste!
Lafayette disse…
Só tem um erro (claro, na minha opinião, que começamos lá no tuí, mas você não continuou - aquele negócio de "deturpar", "machismo" era pra mim? Se foi, digo-lhe que nem passei perto), o uso de BURCA não é cultural, quando muito, é apenas imposição de interpretação religiosa por grupo dominante, e, assim, tal não se confude com cultura, no sentido antropológico e social.

Autodeterminação não se pode confundir com Predeterminação dos Povos, o primeiro é legítimo, o segundo, papo de elite que busca justificação pro seu poder.

No Afeganistão, Paquistão e Irã (que sou totalmente a favor de dominarem o núcleo atômico), a predeterminação é instrumento de opressão, como muitos opressores já o fizeram na história.

E por falar em autodeterminação dos povos, a França apenas exerceu este princípio.

Mutilação Vaginal, que consiste em retirada do clitóris para que a mulher não sinta orgasmo, e, assim, se torne pura e possa casar, ou a penetração pelo pai, ou outro da família, no 1º dia da 1º menstruação da mulher (8/9/10/11/12 anos) em algumas "culturas", por exemplos, são crimes no Brasil, e nem precisa de lei específica que diga isto (mas se precisar, serei o primeiro a defendâ-la).

Ps.: Meu pai diz sempre que este blog é leitura diária dele, pois é muito bom. Vou navegar pela'qui pra ver do que ele diz.
Anônimo disse…
Sinceramente eu creio que a grande maioria das mulheres que usam a burca não o fazem de bom grado, principalmente na França, terra que transpira elegância e bom gosto. Os muçulmanos é que tem de entender que "tudo passa" e a burca já passou há muito tempo.
Lafayette disse…
E tem mais uma coisa... desde o 1º dia de vida, a religião que lhes é apresentada pelo pai (acontece isto em todas!) diz que assim estão salvas e que só assim serão felizes... isto é mais cruel: a imposição dos pais de suas crenças é algo cruel, mas nunca relatada e registra à contento.

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