Essa iconoclastia é uma dimensão concreta e importante do saber visual das religiões monoteístas e do ocidente cristão de uma maneira peculiar. Resulta dela, acreditamos, o caráter instrumental que é atribuído à imagem pela cultura ocidental. Esse caráter instrumental, que ainda hoje persiste, atesta a desconfiança que nossa cultura porta à imagem. Ela tem uma longa tradição. Vejamo-la:
No ocidente cristão românico, como vimos, a imagem é considerada um instrumento auxiliar da catequese. A imagética medieval servia a educar a cristandade iletrada. No século XV, essa imagética serve, também, como suporte à memória do orador, serve também como breviário, como guia para a meditação. Ela serve de referência, de orientação para o ensino dos fiéis.
No século XVI a imagem começa a ter um caráter documental. Ela começa a se despojar dessa obrigação de ser um instrumento de educação e vai se deslocar para outros campos do saber. Nesse momento a imagem começa a ilustrar relatos de viagem, tratados de engenharia, de anatomia, etc. Ela preserva, assim, ainda aqui, a sua função imagética original, amplamente metafísica, que é a função de representar.
No século XVIII essa tendência se radicaliza e a imagem começa a se afrimar como um meio pelo qual o conhecimento se constitui. Ela se associa ao conhecimento encicolpédico, que é o conhecimento moderno. A compartimentalização das ciências provoca uma especialização das imagens. O surgimento da botânica, da mineralogia, da geografia, da astronomia, da zoologia, dentre outras ciências, vão incitar a produção de imagens. Trata-se de uma imagética que não é somente ilustrativa, mas também sistemática e sistematizante.
Nos séculos XIX e XX essa tendência se radicaliza mais ainda e a imagem, notadamente a imagem fotográfica, vai ser prestar a uma função bem mais significante que a função educativa e que a função sistematizante, vai se prestar a desenvolver um papel investigativo. Ainda por meio de uma função representativa, a imagem vai servir para investigar: investigar a natureza, investigar o passado, investigar o corpo humano, investigar o espaço ou o fundo do mar.
Vemos surgirem, no século XX, uma série de imagens radicalmente técnicas, como o raio X, a ecografia, a batimetria por satélite etc. essas técnicas se desenvolvem, sempre, a partir de um referencial imagético e segundo um modelo científico.
Essa investigação será tão instigante e profunda que a imagem vai começar a se aproximar, no século XX, aos limites da própria metafísica, da própria condição de representação. As imagens do século XX vão começar uma trajetória pertencente à tradição pagã, à tradição icônica e, nessa superação, vão começar a dar a ver o invisível. Com isso, ela recupera seu papel mais arcaico, seu papel politeísta, seu potencial de inconstância e anti-metafísico. A imagem investigativa vai permitir a interpretação, a capacitação do olhar. Permitindo o estudo da realidade, ela vai contribuir para a superação de percepção da realidade como um à priori dado. Com isso, a imagem se capacita a supera o estatuto do real e, por extensão, também da modernidade (que é uma determinada compreensão metafísica do real).
Observe-se que não estou dizendo que a imagem do século XX supera a metafísica. O que estou dizendo é que ela aproxima-se da fronteira da metafísica. A imagem técnica típica do século XX, essa imagem do que os olhos não vêem, essa imagética do invisível também ela é metafísica, na medida em que, apesar de procurar apresentar o invisível, o que a conduz é uma motivação eminentemente técnica e, como tal, uma saber complementar, associativo. A sua vocação científica constitui um intuito de apoiar um saber teórico, uma saber verbal que a acompanha.
Portanto, essa imagética científica típica do século XX não será, exclusivamente, um instrumento de decodificação do real, mas um instrumento que traz à luz, que comprova o discurso verbal. Ela será um acessório, um instrumento. Ela será vista como uma etapa intermediária de um pretenso conhecimento “total”, que é o conhecimento do logos. E o conhecimento moderno é um conhecimento logocêntrico. A modernidade não aceita o conhecimento intuitivo e por isso procura domesticar a imagem.
No ocidente cristão românico, como vimos, a imagem é considerada um instrumento auxiliar da catequese. A imagética medieval servia a educar a cristandade iletrada. No século XV, essa imagética serve, também, como suporte à memória do orador, serve também como breviário, como guia para a meditação. Ela serve de referência, de orientação para o ensino dos fiéis.
No século XVI a imagem começa a ter um caráter documental. Ela começa a se despojar dessa obrigação de ser um instrumento de educação e vai se deslocar para outros campos do saber. Nesse momento a imagem começa a ilustrar relatos de viagem, tratados de engenharia, de anatomia, etc. Ela preserva, assim, ainda aqui, a sua função imagética original, amplamente metafísica, que é a função de representar.
No século XVIII essa tendência se radicaliza e a imagem começa a se afrimar como um meio pelo qual o conhecimento se constitui. Ela se associa ao conhecimento encicolpédico, que é o conhecimento moderno. A compartimentalização das ciências provoca uma especialização das imagens. O surgimento da botânica, da mineralogia, da geografia, da astronomia, da zoologia, dentre outras ciências, vão incitar a produção de imagens. Trata-se de uma imagética que não é somente ilustrativa, mas também sistemática e sistematizante.
Nos séculos XIX e XX essa tendência se radicaliza mais ainda e a imagem, notadamente a imagem fotográfica, vai ser prestar a uma função bem mais significante que a função educativa e que a função sistematizante, vai se prestar a desenvolver um papel investigativo. Ainda por meio de uma função representativa, a imagem vai servir para investigar: investigar a natureza, investigar o passado, investigar o corpo humano, investigar o espaço ou o fundo do mar.
Vemos surgirem, no século XX, uma série de imagens radicalmente técnicas, como o raio X, a ecografia, a batimetria por satélite etc. essas técnicas se desenvolvem, sempre, a partir de um referencial imagético e segundo um modelo científico.
Essa investigação será tão instigante e profunda que a imagem vai começar a se aproximar, no século XX, aos limites da própria metafísica, da própria condição de representação. As imagens do século XX vão começar uma trajetória pertencente à tradição pagã, à tradição icônica e, nessa superação, vão começar a dar a ver o invisível. Com isso, ela recupera seu papel mais arcaico, seu papel politeísta, seu potencial de inconstância e anti-metafísico. A imagem investigativa vai permitir a interpretação, a capacitação do olhar. Permitindo o estudo da realidade, ela vai contribuir para a superação de percepção da realidade como um à priori dado. Com isso, a imagem se capacita a supera o estatuto do real e, por extensão, também da modernidade (que é uma determinada compreensão metafísica do real).
Observe-se que não estou dizendo que a imagem do século XX supera a metafísica. O que estou dizendo é que ela aproxima-se da fronteira da metafísica. A imagem técnica típica do século XX, essa imagem do que os olhos não vêem, essa imagética do invisível também ela é metafísica, na medida em que, apesar de procurar apresentar o invisível, o que a conduz é uma motivação eminentemente técnica e, como tal, uma saber complementar, associativo. A sua vocação científica constitui um intuito de apoiar um saber teórico, uma saber verbal que a acompanha.
Portanto, essa imagética científica típica do século XX não será, exclusivamente, um instrumento de decodificação do real, mas um instrumento que traz à luz, que comprova o discurso verbal. Ela será um acessório, um instrumento. Ela será vista como uma etapa intermediária de um pretenso conhecimento “total”, que é o conhecimento do logos. E o conhecimento moderno é um conhecimento logocêntrico. A modernidade não aceita o conhecimento intuitivo e por isso procura domesticar a imagem.
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