Cresci com a interdição de referir o dia das mães. Era uma norma doméstica, imposta pela sabedoria de meu pai, sempre implicante contra o que considerava como “afetos vulgares do capitalismo”. “Escolher um único dia para homenagear uma mãe é um símbolo maior da decadência ocidental”, repetia meu pai, muito incomodado e retórico, completando o raciocínio de maneira indignada: “Reduzir uma mãe a um dia, a um presente, é a pior maneira de ofendê-las! Significa reduzir a pouquíssimo a pessoa mais importante da vida de cada um. Significa reduzir as mães a uma condição simbólica apenas efemérica!” Efetivamente, ninguém dava muita bola para as revoluções de meu pai, mas nem que fosse para termos paz, fingíamos concordar com ele, e toda a família conseguia comemorar o dia das mães sem que ele percebesse, exatamente, o que estava acontecendo. Ah, meu pai... Suas controversas, críticas e cataclismáticas opiniões sempre foram mal-compreendidas. Mesmo por mim, tão interessado na alheia hermenêutic
Fábio Fonseca de Castro - Fábio Horácio-Castro - fabiofonsecadecastro.org fabiohoraciocastro.com