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Mostrando postagens de dezembro, 2015

Meu novo artigo: Semiotical blues: artifícios da temporalidade nostálgica

Publicado ontem, na revista Eco-Pós, do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro mais um artigo trazendo resultados das minhas pesquisas meu, com frutos das minhas pesquisas no Programa de Pós-graduação Comunicação, Cultura e Amazônia. Desta vez foi “ Semiotical blues: artifícios da temporalidade nostálgica”, no qual discuto, no âmbito de minha investigação geral sobre o fenômeno da intersubjetividade, a “temporalidade” dos bailes da saudade de Belém. Retomo aqui o conceito de “semiotical blues”, que já havia desenvolvido em “A Cidade Sebastiana”, para, dialogando com o pensamento sobre temporalidade de Heidegger, Derrida e Schutz, realizar uma “pré-etnografia” dos bailes da saudade e da sua cultura nostálgica. Para explicar melhor, um trecho da apresentação da edição, organizada pelo caro Denilson Lopes: “De Frank Miller seguimos com Fábio Fonseca de Castro para uma espécie de encontro “pré-etnográfico” com um baile da saudade, tradici

Natal de 73

Jamais consegui obter, de meus pais e avós, a revelação da identidade secreta da pessoa que, no Natal em que eu tinha 5 anos de idade, em 1973, vestiu-se de Papai Noel e quase conseguiu acabar com a festa de todo mundo. Após longos anos de raciocínio e ponderações, estou convicto de que essa pessoa era minha babá, a Quicê, ou Dedê, como eu, privadamente, a chamava. Porém, algumas pistas falsas foram colocadas em meu caminho para me desviar da resolução desse enigma. Em geral, essas pistas falsas sugeriam que o malfadado Papai Noel da noite era o tio Antônio, ou melhor, tio Antoniquinho, como eu, privadamente, o chamava. Esclareço que a alcunha desse tio se devia ao fato de que havia já, na família, meu amado tio-avô Antonico, já diminutivo de outro Antônio, a quem dava referência e que ficara no passado. Mas jamais acreditei nessas pistas. Em primeiro lugar porque o tio Antoniquinho era magro como um pavio, sendo impossível vesti-lo de Papai Noel de maneira razoável, respeitando, mi

Sobre o novo Star Wars

Fui por duas vezes, nos últimos quatro dias, assistir ao novo Star Wars. Havendo convivido, nos últimos meses, com a imensa expectativa do meu filho em relação a esse filme – a qual, deve ser dito, não era, no entanto, menos minha, era preciso negociar com certa ansiedade. Havia um receio de decepção com o qual lidar. A espera pelo episódio VII e as vicissitudes motivadas pela entrada da Disney no negócio vinham sendo demasiadas. Não obstante, partilho da impressão que parece ser geral, nesta e nas vizinhas galáxias, a seu respeito: o filme é excelente. E não decepciona. Trata-se de uma história impressionantemente bem contada. “Bem amarrada”, acho, tem sido o termo mais usado para descrevê-la. Amarrada no enredo, amarrada nas referencias, amarrada nos silêncios e enigmas e amarrada nos afetos. É tão bem amarrada que já amarra os episódios a vir, deixando pistas para o que virá e criando a expectativa necessária para que possamos alimentar nossa própria ansiedade com um pouco de d

Sobre o recital Lima & Velasco

Assisti na segunda-feira, dia 20, a uma simpática apresentação de dois jovens pianistas paraenses que estudam, presentemente, na École Normale de Musique de Paris. O recital ocorreu na Sala Ettore Bosio, da Fundação Carlos Gomes e os pianistas se chamam Ariel Lima e Gustavo Velasco. Todas as peças foram feitas para piano a quatro mãos – desafio sempre instigante, que cria certa expectativa no público. O recital começou um pouco tenso – por parte dos pianista e da plateia. Eles certamente trabalharam muito para a apresentação, estavam bem sintonizados, mas fizeram o prelúdio da peça de abertura – a Sonata, de Poluenc, em 3 movimentos – de uma maneira tão nervosa que, mal terminado esse primeiro movimento, a plateia não se conteve e explodiu em palmas. Os dois jovens pareciam aliviados, e a plateia também. O movimento seguinte consegiu enquadrar todo mundo. Era um movimento que permitia um pouco de encenação, e nada como uma boa encenação para botar todo mundo no

Agressão a Chico Buarque: a banalidade do desrespeito

Há certa banalidade, infelizmente, nesse episódio da agressão ao Chico Buarque por filhinhos de papai. Agressões desse tipo, que beiram a violência física, se repetem por todo o país. Gente desse tipo já perdeu os limites da educação e das regras básicas de civilidade. Agora, o que me impressionou mesmo foi a maneira como a grande mídia, sempre com ímpetos golpistas, tratou da questão, tornando Chico Buarque, praticamente, o autor da agressão e desenhando-o como voz partidária. As manchetes não foram do tipo “Chico Buarque foi agredido no Leblon”, mas “Chico Buarque bate-boca com jovens”. Não foram do tipo “Chico defendeu-se de uma agressão”, mas “Chico defendeu o PT”. Pobre país. Esses inúteis, filhos de corruptos – o agressor é filho de Mário Garnero, o responsável pelo escândalo Brasilinvest, banco de investimentos que fechou em 1985 porque mais da metade de seus empréstimos fora contraída por empresas “fantasmas” e neto de Álvaro Garnero, que enriqueceu ao prestar serviço

Suruacá: experiência social e comunicação numa comunidade amazônica

Publicado hoje, na revista Líbero (número 36, jul-dez 2015), o artigo " Suruacá: experiência social e comunicação numa comunidade amazônica ", que escrevi junto com meu querido amigo e ex-orientando Everaldo de Souza Cordeiro.  Aqui o resumo: O artigo reflete sobre o significado da ideia de “comunicação” numa comunidade ribeirinha amazônica. Trabahando com uma perspectiva hermenêutica e com o método etnográfico, explora esse sentido a partir da experiência social da comunidade, discutindo como as noções de comunidade, organização e comunicação medeiam a assimetria entre o endógeno (os habitantes da comunidade) e o exógeno (uma ONG e a Igreja Católica, em sua atuação nesse lugar). Palavras-chave: Comunidade, Amazônia, comunicação, inter- -subjetividade. Ler o artigo aqui .

Sobre as eleições na França

As eleições regionais francesas, que tiveram seu segundo turno ontem, à parte terem demonstrado um expressivo crescimento dos votos na ultra-direita, o Front National (FN), também demonstraram a capacidade das forças políticas locais se unirem, numa situação de risco, para combater esse grande mal. O FN é o grande mal. É um partido facista, com posturas radicais e proposições racistas, mas que dissimula sua identidade por meio de uma máquina de comunicação. Como disse o jornal Le Monde, o mais importante do país, no dia seguinte ao primeiro turno, em seu editorial de capa, o Front National é “uma grande impostura”. Eu estava em Paris no domingo retrasado, quando ocorreu o primeiro turno dessas eleições. Na França o 2 o turno ocorre 7 dias apos o 1 o turno. Vi o avanço do FN, que venceu o 1 o turno em 6 das 13 regiões em disputa. Mas vi também, imediatamente, a mobilização dos agentes políticos para barrar esse avanço. Na região do Pas-de-Calais-Picardie, por exemplo, onde a

Outra prova da irresponsabilidade golpista: a imposição do corte no Bolsa Família

Outro fato sórdido: O relator-geral do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), confirmou que vai manter, no parecer final, um corte de R$ 10 bilhões no Programa Bolsa Família – um corte equivalente a 35% no programa. Pior: Barros também anunciou cortes de R$ 320 milhões no auxílio-reclusão (50%), de R$ 80 milhões no auxílio-moradia (20%) e de R$ 1,84 bilhão (10%) de compensação no RGPS (Repasse a Previdência por Desoneração da Folha). De acordo com ele, essas medidas são necessárias para cumprir a meta do governo de superávit (receitas menos despesas ) de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2016. O parecer será apresentado à Comissão Mista de Orçamento (CMO) amanhã, terça-feira, dia 15. Contextualizando: Trata-se de mais uma tentativa de asfixiar o governo Dilma, com vistas ao golpe em andamento. Nada além disso. O ódio ao PT anda de par com dois outros fenômenos: o descaso para com a camada mais desprotegida da população e a irresponsabili

A difícil arte de conversar sobre política nos dias atuais

Dois pesos e duas medidas têm sido a norma do debate político atual. As pessoas relativizam o que querem da maneira mais tresloucada possível. Tive o seguinte diálogo na noite de sábado, numa festinha de aniversário à qual fui: Um senhor respeitável (por quem tenho grande consideração) – Sou a favor do impeachment, é a única solução para o país. Eu – Mas o impeachment não tem base legal nenhuma. Crime de responsabilidade em um 1º mandato não gera responsabilidade ao governo reeleito. Ademais, não se pode julgar contas de um ano fiscal não concluído, há a questão de que as “pedaladas” não constituem dolo e, por fim, o fato de que as tais “pedaladas” são um mecanismo utilizado por todo gestor público, no Brasil, na sua lida com a LOA. O senhor respeitável – Mas isso depende do ponto de vista. Um jurista que seja favorável ao impeachment vai interpretar isso de outra forma. Tudo é muito relativo, nesse caso. Eu – Como assim, interpretar de outra forma? É algo muito clar

Roteiro político: as razões de Temer

Ocorrido: O jornal Estado de São Paulo publica uma matéria, assinada pelos repórteres Andreza Matais e João Villaverde, que levanta sete decretos de “pedaladas” fiscais de Michel Temer. Esses decretos abriram crédito suplementar de R$ 10,8 bilhões. Como se sabe, é pela mesma razão que se procura criar fundamento para o impeachment de Dilma. Pego na mesma situação, pela lógica, Temer também precisaria ser impedido. Movimento oportunista: Dois dias depois do fato, Temer envia sua cartinha à presidenta. Tenta jogar a bomba no colo da presidenta. Procura justificar suas “pedalas” dizendo que assinatura de vice-presidente, mesmo quando no exercício do mandato, são de responsabilidades da Chefa do Governo. Detalhe importante: Os decretos assinados por Temer, somente em 2015, apresentaram um volume três vezes superior aos de Dilma. Foram quatro decretos editados por ele neste ano: um em 26 de maio, liberando R$ 7,28 bilhões; e três em 7 de julho, que abriram crédit

10 dicas para quem quer fazer mestrado em comunicação

Acabamos agora a seleção da Turma 2016 do Ppgcom - o Programa de Pós-graduação Comunicação, Cultura e Amazônia, que tenho a honra de coordenar e que oferece o mestrado em comunicação da UFPA.  A turma selecionada é muito boa, mas não conseguimos preencher todas as vagas: das 22 abertas, 20 foram preenchidas. Não por falta de candidatos, mas o fato é que nem todos conseguiram atender às exigências do processo seletivo e chegar ao final. Alguns bons candidatos ficaram pelo caminho: seja porque fizeram a prova escrita de maneira deficiente, seja porque o anteprojeto de pesquisa apresentado se distanciava da experiência de pesquisa do Programa ou possuía falhas e contradições, seja porque o CV Lattes apresentado não continha comprovações, seja porque passaram mal pela entrevista. Em função disso, decidi fazer um post com algumas recomendações para os futuros candidatos ao nosso mestrado. Ficam, assim, algumas dicas para quem quiser se preparar melhor para a seleção do ano que vem:

Sobre Delcídio Amaral e sobre corrupção

Um petista estressado, meu colega de longa data, me telefona, esperançoso de que eu acalente sua ansiedade: “Viste? E se o Delcídio sai falando qualquer coisa? Ele entrou nessa onda da delação premiada” Sintetizo minha opinião sobre a coisa e sobre o senador Delcídio Amaral: “Pois eu quero mais é que ele conte tudo o que tem para contar, inclusive que comece do começo, quando ele era filiado ao PSDB e membro da diretoria da Petrobrás”. Recordo que Delcídio Amaral é um oportunista, que entrou para o PT pouco antes das eleições de 2002 – como tantos há… e que é preciso evidenciar essa relação, essa genética política, porque falar de corrupção de forma velada, bem como temer enfrentar qualquer questão relacionada, é cinismo de direita. “Mas tu não achas que isso vai causar mais confunsão na cena política?” O petista estressado não fala confusão, fala “confunsão”. É seu peculiar. Creio que ele agrava a palavra e gosto disso. Confusão anasalada soa mais dramático, m

Fazendo contas

Ao que parece – após a imposição, por Eduardo Cunha, da votação secreta para a formação da comissão especial que apreciará o pedido de impedimento de presidente Dilma – as possibilidades de estancar o processo no nascedouro, cenário ideal para o governo, diminuíram drasticamente. No novo cenário, a batalha sai da Comissão para ir ao plenário da Câmara, onde o governo precisa assegurar 172 votos, já que são necessários os votos de dois terços dos 513 deputados (342 votos) para que o processo de impeachment siga para seu julgamento final no Senado Federal. A conta não é segura. A base tem, supostamente, 292 deputados (PT: 60, PMDB: 66, PP: 41, PR: 34, PDT: 18, PCdoB: 12, PRB: 20, PSD: 32 e PROS: 9), mas quantos deles acompanharão, realmente, a defesa do governo? Certamente o governo conta com os votos do PT (60) e, provavelmente, com os do PR (34). O PP é um aliado igualmente próximo, porque, mesmo ainda incomodado com a perda do Ministério das Cidades, ainda conserva dois m

Retornos

“Por que nunca mais escreveste no blog?” “Por que ando sem tempo” “Isso não justifica e nem explica, ao menos para quem anda escrevendo sobre a temporalidade” “Sobre os efeitos de sentido da temporalidade na vida quotidiana” “Pior ainda: sabes bem que a falta de tempo é relativa” “É, mas pior do que a falta física de tempo é a falta mental de tempo” “É, mas escrever é preciso, acima das condições temporais, do cansaço e da fadiga, porque a situação demanda que mais gente repita que tudo vai mal, que as pessoas estão ficando irracionais e que o bom senso se perde, que esse golpismo paraguaio que assola o país precisa parar de uma vez por todas, que o governo precisa poder trabalhar… Há prioridades”. Calo-me. O diálogo comigo mesmo, monótono, repetidas vezes ocorrido, me convence. Retornemos ao Hupomnemata.