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Mostrando postagens de dezembro, 2018

Crônica de domingo 2: Natal de 75

1. Vou logo dizendo que não houve, neste Natal, grandes aventuras. Longe da Quicê, estávamos seguros, pacíficos e tranquilos. A Quicê – embora sob protestos – fora liberada de nos acompanhar ao Rio de Janeiro, onde deveríamos passar Natal, ano-novo, dia de Reis e o verão sulista, e isto constituía um destacado elemento de alívio aos sentidos de minha mãe.  Os dois últimos Natais foram excessivos para quem queria apenas paz e fraternidade – como minha mãe, coitada. No Natal de 1973 a Quicê, minha babá, fora vestida de Papai Noel e fora atacada pelo dobermann da casa, o Quinquin, ou Rolf do Capimtuba – de seu nome completo – que para além de destruir a Quicê destruiu, também, todos os presentes que ela carregava no seu saco de Papai Noel ( não conhecem a história? Vejam-na aqui ). E, no Natal seguinte, em 1974, a Quicê provocou o incêndio da grande árvore de Natal americana que meu pai trouxera da Zona Franca de Manaus, quase morrendo eletrocutada ( Vejam aqui esse relato ).  Trat

Crônicas de domingo 1 - O GUARDADOR DE REBANHOS

Crônicas de domingo 1 O GUARDADOR DE REBANHOS Era crença, em casa de meus bisavós, que minhas tias-avós não se casaram em função da escrupulosa vigília moral que meu pai, desde os cinco anos de sua idade, lhes infligia. Era recomendação da minha bisa, a sua avó Dica, “Luiz, fica de olho, se algum pelintra se atirar demais tu me avisas”, E lá ficava meu pai a vigiar as tias, envaidecido da sua responsabilidade, enquanto a bisa Dica ia cuidar das suas tarefas na casa. A primeira guarda era a da janela. Havia o grande janelão em forma de ferradura que acomodava facilmente as quatro moças – mais a Elvira, de contrapeso –, ladeada por duas janelitas ogivais, numa das quais o meu pai se posicionava, tal como os destemidos vigilantes de almeias magras do tempo de Ivanhoé.  Por lá passavam os pretendentes, em geral à meiga luz das horas vespertinas. Passavam, iam até a esquina, retornavam, cumprimentavam com discretos acenos de chapéu ou, eventualmente, com sorrisos e até mesmo