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Mostrando postagens de setembro, 2021

Bate-papo sobre literatura amanhã, na Facom-UFPA

 

SOBRE OS 150 ANOS DA LEI DO VENTRE LIVRE – Essa hipocrisia que legitimou muitas formas obscuras de poder

Hoje, 28 de setembro de 2021, completam-se 150 anos da proclamação da Lei do Ventre Livre, um dos marcos intersubjetivos mais importantes, pelas consequências havidas, e, ao mesmo tempo, mais hipócritas, da história do Brasil.  Homenagens a esse marco jurídico, considerando sua hipocrisia e malefícios, não merecem ser feitas – embora, chocado, tenha-as visto por todo o lado, na mídia, nas falas oficiais, nas escolas.  Como se sabe, a referida Lei declarava livres a todos os nascituros de mulheres em condição de escravidão. Menos dito é que estabelecia que, mesmo livres, essas pessoas ficassem sob a tutela dos senhores proprietários da sua mãe até os 21 anos de idade.  Ou seja, sob a aparência liberal de libertar o indivíduo, legitimava sua “indireta” escravidão até a maioridade, beneficiando o escravocrata.  É esse marco jurídico que cria a figura da “cria de casa”, do afilhado, da aia, dos meninos e meninas que recebiam abrigo e alimentação, geralmente precários, em troca de trabalho

Post bobo, só pra registrar que ciência é vida

Terminei ontem meu curso anual no Naea, o “Formação Econômica e Social do Brasil e da Amazônia”. Grato pelo interesse, atenção, disposição e esprit de combat de todos e tantos alunos que me acompanharam. Estudar é saúde. Debater é fundamental. E a ciência é o que resta e o que fica. Sei que 12 horas de aulas por semana, durante um mês e meio, e mais de 40 textos para ler – a maioria deles clássicos, densos, extensos, vindos da economia, da ciência política, da sociologia e da história – é puxado, mas o resultado é sempre gratificante. Ideias, trocas, informações, discussões... Difícil expressar a satisfação e a sensação de completude que a gente tem quando termina um curso.  É isso, post bobo, só para registrar que a gente tem prazer e é feliz fazendo ciência, pensando, desconstruindo, fazendo a interdisciplinaridade, continuando, resistindo...

Sobre o filósofo Jean-Luc Nancy, morto recentemente

No dia 23 de agosto passado morreu, aos 81 anos, o filósofo francês Jean-Luc Nancy, professor emérito de filosofia na Universidade de Estrasburgo, onde ensinou de 1968 a 2004, e membro do Collège International de Philosophie.  Nancy atualizou a fenomenologia, usando-a para desenvolver ideias sobre os temas mais diversos: história da filosofia, literatura, política, arte, sexualidade, teologia, psicanálise, ociosidade e mesmo sobre a pandemia de Covid-19 (o livro Un Trop Humain Virus, 2020).  Em suas mais de duzentas obras, um tema constante foi a ideia de “comunidade”. Sobre esse tema escreveu a trilogia La Communauté Désœuvrée (Bourgois, 1986), La Communauté Affrontée (Galilée, 2001) e La Communauté désavouée (Galilée, 2014).  Nancy teve dois grandes parceiros na sua obra: Jacques Derrida (1930-2004) – sobre quem, por sinal, escreveu um livro — Le Toucher (2000) – e Philippe Lacoue-Labarthe (1940-2007), com quem diversos artigos e livros, dentre os quais o escreveu vários, entre eles 

Como mobilizar o #ForaBolsonaro?

 O fiasco absoluto das manifestações políticas do MBL e do VPR, no último domingo (a primeira manifestação home-office da história) indicam claramente algumas coisas:  1. O grande empresariado brasileiro não autoriza esse povo a representá-lo e, consequentemente os deputados eleitos com base nesses movimentos terão dificuldade para sua reeleição.  2. A hostilidade enunciada à candidatura Lula está restrita a um núcleo ideologizado e muito estreito da sociedade. Há que se distinguir entre hostilidade real, hostilidade enunciada e hostilidade anunciada. Outra hora falo disso. Agora, cabe dizer que enunciação é o ato político maior da disputa, e que ela está baixa, no que tange à candidatura Lula 2022.  3. O modelo de protesto desses grupos, centrado numa semiótica do ressentimento, do preconceito e do ódio de classes, foi abalado e não conformará a base da disputa eleitoral de 2022.  4. A liderança das ruas e do combate ao governo Bolsonaro está com o campo progressista, cabendo a ele oc

Por que as forças progressistas não devem ir à manifestação de 12 de setembro

Para constar: é claro que não vou a essa manifestação contra Bolsonaro, convocada para amanhã, 12 de setembro. E acho que ninguém, no campo progressista, deveria ir. E digo por que :  1) É claro que sou a favor de que a luta contra Bolsonaro envolva a maior parte possível da sociedade brasileira ;   2) É claro que o papel de Lula é e deve ser o papel do grande estadista e conciliador do país ;  3) É claro que acho que a hora é de todo mundo ir para as ruas.  Mas :  4) É claro, também, que o MBL, que convocou essa manifestação de amanhã, pretende colocar as forças progressistas como caudatárias da sua visão de mundo e do seu projeto político, seja ele qual for.  E isso o campo progressista não deve permitir.  Justifico, observando que :  1) Todos devem marchar contra Bolsonaro, mas é um erro pensar que as forças progressistas devem marchar ao lado da direita neoliberal. Como dizia Mao, “combater juntos, mas marchar separados” – a propósito da guerra contra os japoneses, feita ao lado d

Uma crônica (netnográfica) do bolsonarismo no 7 de setembro

O que faz uma pessoa sair às ruas para apoiar Bolsonaro? Dou uma olhada no meu Instagram e encontro algumas respostas. Imagens, frases e hashtags de pessoas que conheço, que foram à manifestação bolsonarista do 7 de setembro, traduzem disposições e disponibilidades que me ajudam a responder essa questão. Ou, ao menos, a cotejar algumas hipóteses.  Meio de brincadeira, mas falando muito sério (meio cronicando, mas também etnografando), vou vendo as imagens e identificando, inventariando, alguns tipos humanos bolsonaristas que encontro nas fotos:  “O eterno herdeiro” – Já na quarentena (de idade) ou mesmo na cinquentena, sabe que vai herdar a empresa do pai, ou seu patrimônio rentista, tanto faz. Bate ponto nessa empresa, finge que trabalha. Felizmente a empresa tem gestores, que fazem o trabalho real. Inseguro de sua posição tardia, precisa dar sinais do que entende como sendo “uma opinião madura e responsável” para se fazer respeitar pela própria família e por seu pai. E é com esse esp

Por que o 7 de Setembro foi muito mal para Bolsonaro

Muitos de nós fomos dormir preocupados com a possibilidade de um transbordo da violência bolsonarista neste 7 de setembro. O receio de um golpe e as imagens dessa gente ocupando a Esplanada dos Ministérios, ontem à noite, com a leniência da polícia militar, assustaram. Porém, o dia acaba evidenciando que tanto Bolsonaro como o bolsonarismo saíram enfraquecidos. Tão pífio como o desfile patético dos tanques-calhambeques da Marinha, semanas atrás, foram as ridículas manifestações de hoje.  Primeiro, pela quantidade dos manifestantes em relação à expectativa. A manifestação de São Paulo ficou aquém da expectativa dos bolsonaristas, que seria de 2 milhões de pessoas. A manifestação de Brasília foi pífia, com 40 mil participantes, se muito.  Segundo, pelo desperdício do investimento. Os apoiadores gastaram muito dinheiro para “mostrar força”. E todos sabemos que muita gente estava sendo paga, como figurantes, com direito a hotel, comida e viagem de ônibus interestadual. Fica a pergunta: dia