Para constar: é claro que não vou a essa manifestação contra Bolsonaro, convocada para amanhã, 12 de setembro. E acho que ninguém, no campo progressista, deveria ir. E digo por que :
1) É claro que sou a favor de que a luta contra Bolsonaro envolva a maior parte possível da sociedade brasileira ;
2) É claro que o papel de Lula é e deve ser o papel do grande estadista e conciliador do país ;
3) É claro que acho que a hora é de todo mundo ir para as ruas.
Mas :
4) É claro, também, que o MBL, que convocou essa manifestação de amanhã, pretende colocar as forças progressistas como caudatárias da sua visão de mundo e do seu projeto político, seja ele qual for.
E isso o campo progressista não deve permitir.
Justifico, observando que :
1) Todos devem marchar contra Bolsonaro, mas é um erro pensar que as forças progressistas devem marchar ao lado da direita neoliberal. Como dizia Mao, “combater juntos, mas marchar separados” – a propósito da guerra contra os japoneses, feita ao lado de seus inimigos históricos. Esses dois campos são historicamente opoentes. A direita neoliberal foi a principal responsável pelo Golpe de 2016, participou e ainda participa do Governo Bolsonaro e foi a grande articuladora do irracionalismo político anti-petista que grassou no Brasil – poucos anos atrás. O momento é de reafirmar a identidade e a agenda progressista, e qualquer mensagem dúbia quanto a isso pode constituir um atraso histórico, um recuo inexplicável e injustificável.
2) O papel de Lula, como pré-candidato à presidência é de uma natureza política e o papel dos Partidos e dos movimentos sociais é outra natureza. Sei que muita gente confunde as duas coisas e que, efetivamente, há uma natural porosidade entre elas, mas isso é básico e neste momento histórico é preciso educar a democracia para a diferença entre Estado, Governo e Partido.
3) Os dois campos estão confrontados, e isso aumenta imensamente o risco de violência – inclusive provocada por agentes infiltrados do bolsonarismo – e deflagrar um movimento do governo e/ou de seus apoiadores de criminalizar as manifestações populares.
4) A direita neoliberal, incluindo nela o MBL, conformam forças ambíguas. Não apoiam, de fato, o impeachment de Bolsonaro. Não agem nessa direção. Apenas aguardam um momento de viabilizar o que chamam de “terceira via”. Ademais, perderam a cultura e o apreço pela democracia e a qualquer momento podem inicializar um novo movimento de expurgo ilegítimo de Lula do processo eleitoral.
5) O discurso de que precisamos fazer um novo movimento de união da sociedade brasileira, como o Diretas Já, é vazio e impraticável. O momento histórico é outro. Nada reproduz o contexto da emenda Dante de Oliveira neste momento.
6) A convocação para o ato de amanhã dizia “Nem Lula, Nem Bolsonaro”. Certo, o MBL lançou depois uma segunda nota dizendo apenas “Fora Bolsonaro”, mas essa artimanha não convence (espero) ninguém. Proibir a entrada de bandeiras vermelhas na manifestação evidencia as motivações, o preconceito e o ódio que a direita neoliberal continua nutrindo e estimulando contra as forças sociais progressistas.
Isto dito, espero que o campo progressista não cometa o erro de se fazer presente na manifestação de amanhã. Todo respeito pela manifestação que será feita – e que bom que ela ocorrerá.
Mas sem oportunismos.
Fábio Fonseca de Castro
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