No dia 23 de agosto passado morreu, aos 81 anos, o filósofo francês Jean-Luc Nancy, professor emérito de filosofia na Universidade de Estrasburgo, onde ensinou de 1968 a 2004, e membro do Collège International de Philosophie.
Nancy atualizou a fenomenologia, usando-a para desenvolver ideias sobre os temas mais diversos: história da filosofia, literatura, política, arte, sexualidade, teologia, psicanálise, ociosidade e mesmo sobre a pandemia de Covid-19 (o livro Un Trop Humain Virus, 2020).
Em suas mais de duzentas obras, um tema constante foi a ideia de “comunidade”. Sobre esse tema escreveu a trilogia La Communauté Désœuvrée (Bourgois, 1986), La Communauté Affrontée (Galilée, 2001) e La Communauté désavouée (Galilée, 2014).
Nancy teve dois grandes parceiros na sua obra: Jacques Derrida (1930-2004) – sobre quem, por sinal, escreveu um livro — Le Toucher (2000) – e Philippe Lacoue-Labarthe (1940-2007), com quem diversos artigos e livros, dentre os quais o escreveu vários, entre eles L’Absolu littéraire (Le Seuil, 1978) Le Mythe Nazi (L’Aube, 1991).
Jean-Luc Nancy foi, sobretudo, um filósofo da fragilidade da existência.
Longamente, produziu uma auto-fenomenologia da fragilidade da sua própria existência: a dificuldade de viver em comunidade em meio à herança fascista, a experiência de um implanta de coração feito em 1992 – que descreve no fascinante livro L’Intrus (Galilée, 2000) e, posteriormente, o longo combate contra o câncer.
A finitude e a morte, não apenas do corpo como, também, da própria obra, senão mesmo da inteligência humana, são temas recorrentes. Veja-se, por exemplo, La Peau fragile du monde (Galilée, 2020), obra densa, que traz muito elementos para pensarmos a recorrência do mal e da violência associados à ulta-direita, que grassam em todo o planeta, hoje.
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