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Por que o 7 de Setembro foi muito mal para Bolsonaro

Muitos de nós fomos dormir preocupados com a possibilidade de um transbordo da violência bolsonarista neste 7 de setembro. O receio de um golpe e as imagens dessa gente ocupando a Esplanada dos Ministérios, ontem à noite, com a leniência da polícia militar, assustaram. Porém, o dia acaba evidenciando que tanto Bolsonaro como o bolsonarismo saíram enfraquecidos. Tão pífio como o desfile patético dos tanques-calhambeques da Marinha, semanas atrás, foram as ridículas manifestações de hoje. 

Primeiro, pela quantidade dos manifestantes em relação à expectativa. A manifestação de São Paulo ficou aquém da expectativa dos bolsonaristas, que seria de 2 milhões de pessoas. A manifestação de Brasília foi pífia, com 40 mil participantes, se muito. 

Segundo, pelo desperdício do investimento. Os apoiadores gastaram muito dinheiro para “mostrar força”. E todos sabemos que muita gente estava sendo paga, como figurantes, com direito a hotel, comida e viagem de ônibus interestadual. Fica a pergunta: diante do pífio resultado alcançado, os “investidores” do ato vão continuar com a carteira aberta? 

Terceiro, pela qualidade dos manifestantes. Um monte de gente embriagada (por álcool ou por cretinice), vestindo roupa camuflada pretensamente do Exército, mas comprada em loja de pescaria e cantando Don e Ravel (lembram? “Eu te amo, meu Brasil, eu te amo...”). 

Quarto, pela ausência de eco. As polícias militares, afinal, não aderiram – institucionalmente – ao processo. 

Quinto, e elemento mais importante: pela frustração da expectativa maior de Bolsonaro, pois não houve violência. Era o que mais queria o presidente, pois permitiria justificar uma intervenção. Bolsonaro deve estar frustrado. No desespero, ele precisa demonstrar força, provocando atos violentos. É a única chance que ele tem de se manter no jogo – ou fora da prisão. 

Já ouvi dizer que as mobilizações de hoje serviram, pelo menos, para alimentar a bolha bolsonarista. Discordo. 

O cavernícola terá, na verdade, que lidar com o choque de realidade dos seus seguidores. A maioria deles foi lá querendo ver um golpe, sangue ou pelo menos a invasão do STF. E não teve nada disso. 

Além disso, vai ter que lidar com a raiva dos militares de alta patente, que não gostaram de ver o ministro da Defesa acompanhando os atos. E, ainda, vai ter que lidar com a classe política por causa das suas declarações de que não cumprirá as ordens do Supremo e de que o órgão “pode sofrer aquilo que não queremos”. 

Em síntese: o cavernícola saiu ainda mais enfraquecido, mais nas mãos do Centrão, menos crível por sua base, mais perto da cadeia e com menos capacidade de infundir medo na sociedade – cabendo lembrar que o medo é a forma principal do seu capital político, porque o fascismo funciona por intimidação, produzindo medo.

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