Um
petista estressado, meu colega de longa data, me telefona, esperançoso de que
eu acalente sua ansiedade:
“Viste?
E se o Delcídio sai falando qualquer coisa? Ele entrou nessa onda da delação
premiada”
Sintetizo
minha opinião sobre a coisa e sobre o senador Delcídio Amaral:
“Pois eu
quero mais é que ele conte tudo o que tem para contar, inclusive que comece do
começo, quando ele era filiado ao PSDB e membro da diretoria da Petrobrás”.
Recordo
que Delcídio Amaral é um oportunista, que entrou para o PT pouco antes das eleições
de 2002 – como tantos há… e que é preciso evidenciar essa relação, essa genética
política, porque falar de corrupção de forma velada, bem como temer enfrentar
qualquer questão relacionada, é cinismo de direita.
“Mas tu
não achas que isso vai causar mais confunsão na cena política?”
O
petista estressado não fala confusão, fala “confunsão”. É seu peculiar. Creio
que ele agrava a palavra e gosto disso. Confusão anasalada soa mais dramático,
mas também, contraditoriamente, desmistifica o suposto drama.
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Para
constar, uma sintética contextualização do caso: no dia 25 passado o STF mandou
prender o senador Delcídio Amaral, do PT-MS, por tentativa de obstrução da
Operação Lava-Jato. Foi a primeira vez, desde a redemocratização, em 1985, que
um senador foi preso no exercício do mandato. Encontraram-se evidências (uma
gravação) de que o senador oferecera uma “mesada” de R$ 50 mil para que o
ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, omitisse seu nome nas denúncias que
vem fazendo em seu acordo de delação premiada. Por que? Porque Delcídio é, provavelmente,
o elo da corrupção na Petrobrás. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) ele comandou a diretoria de gás da estatal. Nesse momento, Cerveró era
seu adjunto e é aí que toma corpo o grande esquema de corrupção que envolve a
empresa, um esquema que passou do governo tucano para o governo petista. O
Senado, por grande maioria, inclusive com votos petistas, autorizou a manutenção
da prisão de Delcídio. Que bom! A corrupção é um mal da política como um todo, está
na essência do processo político, e por isso nenhum partido está à salvo dela.
Tanto faz se esse senador está filiado ao PT ou ao PSDB: ele deve ser preso,
mesmo, e contar tudo o que sabe.
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