Assisti
na segunda-feira, dia 20, a uma simpática apresentação de dois jovens pianistas
paraenses que estudam, presentemente, na École Normale de Musique de Paris. O
recital ocorreu na Sala Ettore Bosio, da Fundação Carlos Gomes e os pianistas
se chamam Ariel Lima e Gustavo Velasco. Todas as peças foram feitas para piano
a quatro mãos – desafio sempre instigante, que cria certa expectativa no
público.
O
recital começou um pouco tenso – por parte dos pianista e da plateia. Eles
certamente trabalharam muito para a apresentação, estavam bem sintonizados, mas
fizeram o prelúdio da peça de abertura – a Sonata, de Poluenc, em 3 movimentos
– de uma maneira tão nervosa que, mal terminado esse primeiro movimento, a
plateia não se conteve e explodiu em palmas. Os dois jovens pareciam aliviados,
e a plateia também.
O
movimento seguinte consegiu enquadrar todo mundo. Era um movimento que permitia
um pouco de encenação, e nada como uma boa encenação para botar todo mundo no
controle do próprio espírito. Os dois encenaram, aí, o tema central dessa peça,
o naïf, o ingênuo, o campestre. E se saíram muito bem, partindo para o terceiro
movimento sem hesitações.
Veio
depois a Dança Macabra, de Saes-Saenz, na versão para 4 mãos de Ernest Guiraud.
A música é bela, bem conhecida e instigante. Perfeita para jovens pianistas destemidos.
E os dois foram competentes. Não apenas executaram uma obra difícil como também
lhe conferiram dramaticidade. Até fizeram umas caretas. Para mim, foi o ponto
alto do recital. Aliás, acho que não só para mim, porque alguns “bravos”
ecoaram na plateia.
A
terceira peça da noite, a opus 56, Dolly, de Fauré, talvez pedisse, aos dois
rapazes, um pouco mais de ousadia – afinal, é uma história para crianças, que
precisa ser “contada” como se contam histórias a crianças, com inventividade,
um pouco de suspense, rastros e enigmas. É o tipo de música que pede narrativa
e que, por isso, tem que fugir da simples “boa execução”.
Depois
do intervalo veio Rachmaninov, opus 11. Boa escolha. Depois de Dolly estávamos
à caminho de Ma Mère l’Oye, de Ravel, sabiamente evitado. Muito bom. Deu grande prazer em escutar.
Os garotos trabalham duro e bem. Nós, na plateia, pudemos seguir o jogo de
diálogo e complemento das quarto mãos com clareza. Hoje vi na internet outras
três apresentações da mesma música (como é bom ter um tempo para fazer isso!).
Vi e revi o 4o movimento, a Valsa, que foi o que mais gostei na apresentação
deles. Se forem atrás não percam a apresentação de Martha Argerich com Khatia
Buniatishvili desse 4o movimento, que é impressionante. Dá para seguir as
paisagens russas.
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