Malika Mokkedem, nascida em 1949 em Argel é uma escritora importante do cenário pós-colonial que, atualmente, conforma um setor central da cena literária global. Seu terceiro livro, intitulado “L’Interdite” aborda o tema da identidade pela via de uma curiosa metáfora: um transplante de rins. O receptor do órgão é um francês, a doadora uma argelina e o transplante ocorre na Argélia. A situação dá margem a uma reflexão angustiante, marcada pela construção de binômios como antiga-metrópole/colônia, colonizador/colonizado, homem/mulher, vida/morte, norte/sul, identidade/ausência-de. Em síntese, a identidade do francês é posta em questão. E aí está o interessante do livro: em toda a tradição da literatura pós-colonial, seja ela em língua francesa ou em língua inglesa, dificilmente os personagens europeus se questionam sobre sua identidade. O comum é que se confrontem com estrangeiros que, estes sim, se questionam sobre sua identidade.
Os exemplos disso – e os que eu posso dar são em literatura pós-colonial em francês - são muitos: Le Clézio, Michel Tournier, Patrick Modiano, Didier Van Cauwelaert, etc. Modiano mostra uma Paris multicultural, mas não se aproxima do tema da “identidade francesa”, como se ela fosse inquestionável. Van Cauwelaert aborda a identidade magrebina, um cenário marcado pela precensa dos antigos colonizadores franceses e por um ponto pacífico: a idéia de que a identidade da metrópole não gera conflitos senão na identidade dos colonizados. Tournier até que elabora uma crítica da busca européia pelo exotismo, mas... bem, vivemos num tempo no qual a crítica, por si mesma, já não é suficiente. A crítica é um instrumento que só alcança seus objetivos numa sociedade moderna.
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