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Heranças à esquerda 1

A política da longa duração

Propôs o jovem secretário de estado ao nobre deputado de esquerda:

- Que tal organizarmos um debate sobre o futuro do socialismo no século XXI?

E o deputado respondeu:

- Mas para quê pensar nisso agora? Deixemos para depois, ainda temos 92 anos pela frente para fazer isso.

O jovem secretário de estado, caminhando entre cenários e conjunturas, entre dogmas e planejamentos de Estado, ia aos poucos percebendo que são duas as políticas, e mais que duas as ausências de política.

Em relação às duas políticas, ambas presentes na vida que é vossa e na minha, penso que a primeira delas é aquela da qual é usado falar que é “partidária” – embora seja mais que isso e, algumas vezes, menos que isso – e que corresponde aos movimentos da disputa diária, do ir e vir, dizer e desdizer, pensar e despensar. Não posso falar dela. E nem quero, porque tão pouco se fala da outra que, esta, passa a ser a lacuna e, simultaneamente, a pedra-angular que me incomoda, por sua ausência. Essa outra política é a política da longa duração. É sobretudo ela que me interessa, a mim, que ocupo um cargo público e que não tenho projeto político-partidário pessoal mas que, tácita ou tecnicamente, ajudo a construir um projeto coletivo.

A grande política é um movimento histórico. É preciso encontrar respostas estruturantes, e não apenas respostas imediatas. Precisamos pensar o longo prazo enquanto realizamos o curto prazo, porque senão os fundos serão perdidos, ejaculados à esmo.

E, junto com essa elaboração, precisamos readquirir a prática de refletir, ou melhor, de criar a teoria da nossa prática. Essa é uma das grandes deficiências da vida política brasileira. A perda gerada é o custo de, muitas vezes, ter que refazer o caminho ou, até mesmo, se ver na condição de, em algum momento, não saber para onde ir.

Estou falando aqui sobre a conjuntura de dois processos:

O primeiro deles é o de nos permitir uma zona de raciocínio que ressalta mais o longo prazo que o curto e médio prazo, mais o político que o eleitoral, mais o cozido que o cru. Não que estejamos para discutir o futuro do socialismo ou do sindicalismo no século 21, mesmo por que o tempo, a dedicar ao cotidiano, não permite abstrações que não sejam permeadas pela práxis (e mesmo pelo curto médio prazo, também), mas não precisamos, necessariamente nos eximir de acrescentar ao nosso trabalho, um componente reflexivo que prognostica coisas como “o futuro do socialismo ou do sindicalismo, no Pará, no século 21”.

O segundo processo é o de concretizar uma elaboração teórica capaz de explicar e potencializar a nossa prática. O PT, como alguns outros partidos de esquerda, não é segredo a ninguém, tem certo desprezo pela elaboração teórica. A que se deve isso? Ao fato de que a esquerda brasileira, no trajeto que se iniciou com a Reabertura, em 1979, se distanciou do marxismo como referencial. Mas, também, ao fato de que os intelectuais marxistas se galvanizaram na universidade, sem procurar uma convergência com a política.

A convergência entre esses dois processos engendra a construção de uma perspectiva de longa duração e, em conseqüência, de uma agenda de longo prazo. Todo planejamento atual tem necessidade de realizar processos paralelos de organização do imediato e do distante. Sabemos que são processos radicalmente diferentes, porque a disparidade entre a realidade herdada e o bom senso é grande. E, por extensão, descobrimos que o fazer-agora demanda um esforço tão grande que prejudica o pensar-o-depois.

Ademais, temos a chance histórica de, neste momento, podermos fazer as duas coisas simultaneamente. A esquerda mundial tem uma nova chance, histórica, aberta com a crise do mercado de capitais, de se colocar, de se reposicionar. Precisamos pensar, sim, sobre o futuro do socialismo e, em convergência, construir nossa prática.

Comentários

Anonymous disse…
Ejacular a esmo? Cara, aí tá foda mermão!
Anonymous disse…
Fábio

Discordo parcialmente de sua reflexão.

Acho que a redução da importãncia da formulação política dentro do PT e dos partidos de esquerda em geral acompanha o processo de queda do Muro de berlim e "fim das utopias", cujo ápice se localizou nos anos 90, quando parte da esquerda revolucionária acomodada no Pt se moveu rumo ao centro, processo este que ainda se encontra em curso e é bem traduzido pela fala de Lula onde afirma que o homem ao envelhecer gira à direita.

Recebi por email um texto de autoria de Charles Alcântara, que ainda não li, que pretende debater a dualidade esquerda e direita. Gostaria de retomar estes debates.

Mantemos contato.

abs

Levi Menezes

ps: me ligue, preciso falar contigo...
Anonymous disse…
è de fato u momento histórico, quem poderia afirmar que um presidente norteamericano defenderia um controle de mercado e se tornaria "socio" de diversas empresas, estatizando-as? Mas creio que a esquerda parece estar desnorteada, a ponto de não conseguir agir e usufruir reforçando seus princípios basilares. Outro ponto seria reforçar através de leis, benefícios que movimentos de esquerda trouxeram, e avançar em outros urgentes, mas pra isso é necessário políticos comprometidos com estas questões e juristas, legisladores dispostos a coloca-las em pauta. È,pensando bem, este momento pelo jeito passará em vão .

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