Pular para o conteúdo principal

Razões para ir ao Ceará

Todos sabemos que os paraenses vão ao Ceará para banhos de mar e para a compra de panos e artefatos conexos. Alguns vão também visitar parentes, já que, como também sabemos, as relações familiares entre estes dois estados são antigas e valiosas. Eu, por mim, vou porque tenho amigos. Até gosto de banhos de mar, ainda que não suporte sol forte e praia cheia de gente, mas odeio fazer compras, sobretudo de panos. Vou ao Ceará, como disse, porque tenho amigos. Marina, minha esposa, assinalou-me isso enquanto estávamos almoçando, com amigos, no “Bar do Ciço”. Disse-me que eu tinha ali o que não tenho mais em Belém: o bater papo descompromissado e descontraído, sem precisar chegar a algum lugar ou a alguma conclusão.

É, de fato, sem desejar generalizar e falando apenas de minha experiência, as possibilidades de diálogo que venho tendo, em Belém, há muitos anos, são excessivamente limitadas. De um lado, espécimes de uma elite rentista e inculta, sempre preconceituosos e ignorantes, obscurecidos por uma burrice ao rés-do-chão. De outro, ramos sobre ramos de políticos em formação que só discutem a política do voto, o dia-a-dia, e que se entredevoram como lobisomens nostálgicos da lua cheia na mesma medida em que eu próprio, muito ridiculamente, sou nostálgico de uma esquerda de compromissos. De um terceiro lado, uma academia triglicerídica, lesta, que se aboleta em leituras rasas com a energia de um Sargento Garcia e ainda por cima se acha culta. De um quarto lado, neo-new-intelectuais que julgam que a inteligência está em ser bem maledicente, jocosos e em fazer os outros rirem com os mesmos pós-neo-new-chavões de sempre. E sem esquecer dos que sempre querem relatar seu “novo projeto”, das imitações e, de novo, da compulsiva maledicência.

Em Fortaleza, ao contrário, tenho alguns bons amigos com quem se pode discutir literatura sem pretensão, política sem cinismo e rir sem ser do ridículo. Com quem se pode não-saber, deixar-ser, concordar.

Por vezes acho que a competição em Belém anda dura...

Comentários

. disse…
Ai, Fábio, ler isso me deixa ainda mais em crise...
Anônimo disse…
Vai prá lá. vai Fa´bio.

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”