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Heranças à esquerda 11

O marxismo soviético: Mais sobre o comunismo de guerra e a NEP

O comunismo de guerra consistiu no modelo de controle econômico rigoroso de todo sistema de produção e de distribuição. Na prática, uma questão de sobrevivência para um Estado que tinha que fazer frente à guerra civil e à ameaça constante de todas as demais potências da Europa e da Ásia. Como disse Trotsky, foi “a regulação do consumo numa fortaleza sitiada” – ou seja, uma economia baseada no racionamento, que, mesmo superada, deixaria marcas profundas na mentalidade burocrática do novo país e que seria, indiretamente, retomada, como modelo, em muitas ocasiões.

A conjuntura de guerra civil, bloqueio internacional, fome e um inverno particularmente rigoroso (a história está cheia dessas conjunturas enigmáticas) mataram 5 milhões de pessoas nos quatro meses de inverno de 1921-22. A falta de trabalho gerou um êxodo populacional em direção ao campo que chegou a 57% e a 44%, respectivamente, da população de Petrogrado e Moscou. De cada cinco indústrias existentes em 1913, quatro fecharam até esse mesmo período.

Porém, um outro elemento também deve ser acrescentado a essa conjuntura: justamente o modelo de apropriação, pura e simples, adotado pelo comunismo de guerra. Na prática, foi uma grande asneira, um grande erro, induzido por uma leitura simplista da obra de Marx. O fato é que não se pode dirigir os preços sem levar em conta os custos reais da produção, e era isso que acontecia na prática: ao apropriar-se da produção e dar, em retorno, apenas, o necessário para a subsistência, o estado soviético desestimulava o arrojo técnico, a inovação e o estímulo do ganho privado. Além do mais, a extinção da moeda como regulador das trocas, também levada à cabo pelo comunismo de guerra, gerou o caos no comércio e nas finanças.

Como o comunismo de guerra restringia todo interesse individual, foi a experiência mais radical de igualitarismo já experimentada na história. E é nesse contexto que se pode compreender como a NEP – a Nova Política Econômica – fez a diferença, inspirou o país e deu um fôlego ao estado que, efetivamente, permitiu a sua continuidade.

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