Meu ponto de partida
Quem acompanha esta série de artigos, à qual chamo Heranças à Esquerda, sabe que eles surgem (ver aqui, aqui e aqui) de indagações que me levam a buscar uma identidade política nos escombros de duras experiências de governo, de partido, de pesquisa sociológica e de leitura. Acho que é fundamental, neste momento, e por muitas razões, construirmos referenciais contemporâneos para a democracia e para o socialismo. E é por isso que estou falando sobre isso.
Recupero minhas heranças à esquerda e coloco-as na mesa, construindo castelos de carta. Que heranças tenho, por que caminhos andar? Não sou orgânico, não tenho ilusões de espaço e não tenho projeto político que não seja coletivo. Porém, festejo o ocaso do muro de Wall Street com o sabor perverso de vingar as honrarias dadas à queda do muro de Berlim. E alguma ironia também me habilita...
Minha participação política é imperfeita, mas fiel, partidarizada e equilibrada, para longe de tendências e espectros que não elaborem, antes de tudo, a construção coletiva.
Não sou um ontomarxista, do ponto de vista metodológico, mas acredito no socialismo, mediado pela sociedade civil, como a única forma política para a conquista da dignidade social. Não sendo ontomarxista, seja lá o que isso quer dizer, minhas heranças à esquerda são também weberianas, simmelianas... e fenomenológicas.
Venho da tradição mais abjeta aos corporalistas, a fenomenologia – a mesma que inspirou Walter Benjamin a praticar um materialismo ambivalente, Theodor Adorno a inventar uma dialética “negativa” e Georg Lukács a traumatizar a estética. Dizendo mais especificamente, daquela tradição que Perry Anderson denominou “marxismo ocidental” e que se diferencia da tradição do “marxismo-leninismo” pelo fato de ter um matiz filosófico dominante e de se distanciar, embora não por desígnio exclusivamente próprio, da práxis política.
As esquerdas que aí se encontram são heranças a reivindicar, mas, sobretudo, a reposicionar. E esta é a hora. Precisamos refletir sobre o que nos aguarda, precisamos produzir cenários para entender o que será o socialismo no século XXI.
Comentários
Excelentemente bem escrito esse seu poste. Prazer em lê-lo e em sabê-lo. Nossa esquerda perdeu o trem da história, e como não tem reflexão ela tornou-se personalista, como a Direita. Não existe muita diferença na elaboração do pensamento político entre o que vemos aqui no Pará e a Direita. Infelizmente.
O Governo Ana Júlia está completamente desacreditado dentro e fora do PT, e em qualquer classe social a que se possa pertencer. Essa falta de identidade desse governo reflete o que o PT, e a esquerda que ele tende a representar, o são hoje, desprovidos de qualquer ideal, desprovido de qualquer identidade, e até desprovidos de heranças. Observamos apenas uma luta fatricida, uma luta muitas vezes levada pela própria luta sem um objetivo, nem concreto nem subjetivo. É a guerra pelo zero a zero, ninguém pode ganhar, porque ninguém confia em ninguém. Poucos conseguem se dar bem, mas passando por cima do outro, não importando como. Veja o caso do Charles Alcântara! Veja o caso da Edilsa Fontes, foram expurgados do governo em benefício a quem? Tanto este governo como o PT tem uma prática fatricidade que a tendência é acabar como o PSDB, sem herdeiros, e pior ainda do jeito que o governo está, sem extensão, pois até eles poderão ser jogados do poder por incompetência nas próxima eleições.
Que pena! Acredito que teremos que inventar, por aqui, uma nova esquerda, porque a que está aí não responde aos nossos ideais.
Luiza.
No mais, pra mim que absorvi o anarquismo como uma concepção plausível de crédito para o alcance do socialismo real, também acredito que a mediação da sociedade não deva ser submetendo-a aos partidos e regimes autoritários e sim à conscientização das massas através de um processo de educação libertária. Ambos, impensáveis para a realidade brasileira, ou não prof°?!
Sinceramente, não acho o anarquismo plausível, mas a proposta dele é, justamente, não ser plausível, então tudo bem.
Quanto ao papel dos partidos, penso que eles são intermediadores privilegiados, ou podem sê-lo. Mas para isso é preciso fazer a reforma política, que ainda vai longe.
A educação, quanto a ela, tem a tendência natural de ser um mecanismo de controle, e não de libertação. Ninguém pode ser libertado por outro. Ou se liberta a si mesmo ou não de "liberta". Os pedagogos que me desculpem.
Abraço grande.
Meu caro ou cara,
Como o governo quer chegar em algum lugar??? Para onde??? cadê os indicativos, mesmos que subliminares??? Não existe? Técnicos, o que vi só foi incompetência da cabeça do governo que não dou colocar minimamente dirigentes competentes. os poucos que ela tinha, ela ainda os dispensou! Tem uma monte de dois de paus com babadores ao seu lado. Só. Que apenas alimentam o seu ego e conduzem o governo segundo seus interesses, utilizando-a também.
Que pena! que perda de oportunidade!