A estratégia do PT para a Confecom, de acordo com resolução partidária tirada em setembro último está baseada num movimento central, num movimento complementar e em movimentos específicos.
- O movimento central é luta pela definição de um marco regulatório democrático para o setor. Por tal compreenda-se uma lei que trate a comunicação como área de interesse público. A função desse marco é a criação de instrumentos de controle público e social, com atenção para a mudança de cenário provocada pelas tecnologias digitais.
- O movimento complementar equivale à luta para que as demais ações estatais na área estejam comprometidas com a pluralidade e a diversidade, o controle público e social dos meios e o fortalecimento da comunicação púbica, estatal, comunitária e sem finalidade lucrativa.
- Os movimentos específicos significam que o partido se posicionará ao lado das lutas especificas de cada área.
Algumas críticas podem ser feitas à resolução do PT e me permito fazê-las:
A resolução coloca que
“Mais do que combater os monopólios e todos os desvios do sistema atual, é preciso intervir para que eles não se repitam ou se acentuem nesse novo cenário tecnológico – que dentro de poucos anos superará completamente o antigo modelo”.
Em relação ao marco regulatório, o PT considera o arcabouço legal brasileiro existente, organizado em torno de três leis - o Código Brasileiro de Telecomunicações (1962), a Lei do Cabo (1995) e a Lei Geral de Telecomunicações (1997) - é
“anacrônico, autoritário, fragmentado e privilegia os grupos comerciais, em detrimento dos interesses da população”.
O resultado dessa situação é que o modelo em vigor permite,
“a uns poucos grupos empresariais – muitas vezes associados a fortes conglomerados estrangeiros – exercer o controle quase absoluto sobre a produção e veiculação de conteúdos informativos e culturais”.
O Marco Regulatório, na visão do PT, deve estar norteado pelo conceito de comunicação como direito do cidadão. E deve estabeler:
- atribuições e limites para cada elo da indústria de comunicação (criação, produção, processamento, armazenamento, montagem, distribuição e entrega), impedindo que uma mesma empresa possa atuar nos mercados de conteúdo e infra-estrutura;
- políticas, normas e meios para assegurar pluralidade e diversidade de conteúdos;
- políticas, normas e meios para assegurar que a pluralidade e a diversidade cheguem aos terminais de acesso;
- o fomento da produção privada não comercial ou pública não-estatal;
- o fortalecimento dos meios e da produção público-estatal;
- a proteção e o estímulo à produção comercial nacional;
- a distinção entre operação de rede e a produção/programação de conteúdos, inclusive de radiodifusão;
- o conceito de rede em regime público para banda larga e telefonia celular;
- a construção e a operação de uma infra-estrutura público-estatal nacional;
- o estimulo a infraestruturas público-estatais de base e alcance municipais;
- o acesso gratuito e universal de banda larga para todos os brasileiros;
- regulação sobre conteúdo (classificação indicativa);
- garantia de produção independente e regional;
- mecanismos de controle público;
- fomento da comunicação comunitária;
- uso dos recursos do FUST e FUNTEL para políticas públicas de democratização da comunicação social;
- modelo de gestão democrática e participativa para o canal cidadania;
- democratização e transparência aos processos de concessão de canais de rádio e TV, com efetiva aplicação dos dispositivos legais já existentes e imediata regulamentação dos artigos 220 e 221 da Constituição Federal, que determinam: a proibição do monopólio e da propriedade cruzada; a promoção da cultural nacional e regional; a regionalização da programação; o estímulo à produção independente; e a preferência a conteúdos educativos, artísticos, culturais e informativos;
- estender a regulamentação de que trata os artigos 220 e 221 da Constituição para a as áreas de TV a Cabo, satélite, internet etc.
Em relação aos demais posicionamenos do PT para a Confecom, a resolução do partido os divide em quatro grupos de propostas: as relativas ao Controle público e social, as relativas à Internet, as relativas à Radiodifusão comunitária e as relativas às Políticas afirmativas. Essas propostas são as seguintes:
Propostas sobre o Controle público e social
- reativação do Conselho de Comunicação Social;
- criação de Conselhos Estaduais e Municipais de Comunicação Social;
- criação de instrumentos fiscalizatórios com outras instituições, por exemplo, o Ministério Público;
- criação de instâncias regulatórias que garantam a participação popular na formulação das políticas do setor e na avaliação das outorgas de comunicação, com mecanismos que impeçam a reprodução dos aspectos autoritários do sistema atual;
- criação de um modelo que garanta mecanismos efetivos de sanção aos meios de comunicação;
- atribuição de papel mais democrático e efetivo a agentes públicos como a Anatel, o Conselho de Comunicação Social e outros;
- produção de nova legislação para o Direito de Resposta, não apenas individual, mas também coletivo e difuso, de maneira que a sociedade, através de suas instâncias representativas, possa reivindicá-lo.
Propostas sobre a Internet
- manter arquitetura aberta e não proprietária, assegurando que não se possa controlar a possibilidade de compartilhar informações e de se comunicar;
- barrar o avanço AI-5 digital (PL 89/2003), já aprovado no Senado, criando frentes estaduais de resistência como a existente na Câmara dos Deputados;
- promover a regulação positiva, fora da cultura do broadcast típica do modelo atual da radiodifusão;
- fazer a defesa intransigente da neutralidade de Rede;
- garantir o anonimato nos processos de produção e de divulgação;
- defender os protocolos P2P e as redes de interação;
- defender o acesso aos meios de produção e consumo da informação, do conhecimento e da cultura, como forma de garantia do direito à comunicação;
- defender a universalização de todos os serviços de comunicação em condições isonômicas (cabo, telefone e internet);
- modificar a legislação da Anatel a respeito do acesso à Internet via rede elétrica, de maneira a garantir a universalização gratuita ou de baixo custo por esse meio.
Propostas sobre a Radiodifusão comunitária
- ampliação da potência para universalizar o acesso;
- criação de fundo público de apoio às rádios e TVs comunitárias;
- garantir percentual da propaganda oficial;
- liberar formação de redes entre as rádios e Tvs;
- garantir canal de cidadania na TV aberta;
- garantir variação de freqüência para as rádios;
- subsidiar processo de digitalização;
- promover a anistia, com devolução de equipamentos, para todos os radiodifusores que se enquadrem no Código de Ética da Abraço.
Propostas sobre as Políticas afirmativas
- garantir concessões para comunidades tradicionais, com recorte para a matriz africana;
- garantir paridade racial de gênero na publicidade;
- garantir percentual - nos sistemas público, privado e estatal – para programas que tratem da História da África e da população de origem africana no Brasil, considerando a Lei 10.639.;
- garantir a participação do movimento negro organizado no Conselho de Comunicação Social e demais órgãos de regulação.;
- garantir política específica de inclusão digital para as comunidades tradicionais;
- criar penalidade específica para combater o racismo nos meios de comunicação;
- propor a inclusão, no ensino público, de matérias sobre a educação para a mídia;
- debater o papel da mídia na construção social da imagem das mulheres.
A resolução também descreve as diversas tarefas do PT em relação à Confecom:
a) Mobilizar sindicatos e movimentos sociais, estimulando sua participação nas comissões estaduais pró-conferência e em todos os espaços que discutem a democratização das comunicações.
b) Orientar a militância petista a lutar por regras amplas e democráticas nas conferências estaduais.
c) Estimular prefeitos, governadores e parlamentares petistas para que chamem conferências.
d) Estimular a realização de conferências livres em todos os níveis, aprofundando, além das ações descritas neste documento, temas relativos às questões de raça, gênero, homossexualidade e juventude, entre outros.
e) Apresentar as propostas do partido aos seus representantes no governo federal envolvidos com a realização da 1ª Confecom.
f) Levar à população brasileira as propostas do PT para a 1ª Confecom, estimulando o debate sobre o direito à comunicação.
g) Desenvolver um projeto estratégico e de longo prazo para as comunicações no país.
h) Adotar a comunicação como prioridade do PT, estimulando a participação das instâncias nos movimentos que lutam pela democratização do setor.
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