Estou viajando e o blog está no modo "releitura". O post a seguir foi publicado originalmente no dia 29/11/2006. Retorno no final de janeiro.
Sexto pecado: Ideologia do descompromisso com a cultura popular
Um mote perverso norteou a política cultural dos últimos doze anos: a idéia de que qualquer interferência na cultura popular resulta na transformação da cultura popular. Assim, a cultura popular precisa, a Secult sempre sugeriu, andar por conta própria. Essa estratégia sempre foi defendida alegando-se que não se deve proteger a cultura sob uma redoma de vidro, coisa que rapidamente a mataria. Isso é certamente verdade, mas entre proteger a cultura numa redoma e interferir nela há uma distância imensa. Se as duas extremidades são negativas – e com isso concordamos – não deixa de haver infinitas gradações entre elas. Gradações que assinalam a necessidade do Estado ter, sim, um compromisso com os produtores culturais mais básicos: com os cordões de pássaro, com o boi-bumbá, com o carnaval, com tecedoras, músicos populares, fabricantes de instrumentos musicais, artesãos e com uma infinitude de indivíduos que ficaram à margem de todas preocupação do Estado na gestão PSDB.
A postura do PSDB resulta, na verdade, num descompromisso. Fazer política cultural nessa esfera é difícil, mas necessário. Escolher o descompromisso é o caminho mais fácil, mas é o caminho mais perverso. Acrescente-se a isso o fato de que o Estado, pelo menos nominalmente, possui um equipamento cultural cuja missão é pensar na promoção social pela via da cultura popular e na interiorização: a Fundação Cultural do Pará. A Fundação foi, durante toda a gestão, um instrumento ocioso, desativado e mesmo inerte, em relação à sua verdadeira missão.
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