Estou viajando e o blog está no modo "releitura". O post a seguir foi publicado originalmente no dia 28/11/2006. Retorno no final de janeiro.
Resolvi publicar no blog a primeira parte do novo paper do Laboratório de Sociomorfologia, no qual discuto o que seria uma gestão de política cultural social e democrática. O momento é oportuno, justamente, porque dentro de pouco mais de um mês começa o governo de Ana Júlia no Pará. O momento é impressionante: primeiro governo petista no estado e primeira mulher a governá-lo. Na área cultural, a missão será árdua, porque a gestão anterior, nos seus doze anos de ação, deixou lacunas graves, mas também obras de visibilidade e apelo. A idéia é contribuir com a discussão já em curso na cidade.
A primeira parte deste novo paper do LabSo faz uma crítica da gestão do PSDB. A segunda parte alinha alguns elementos que deveriam nortear a próxima gestão cultural. Seguem os 10 pecados anunciados. Publicare3i um por dia, para não cansar:
O PSDB - não apenas no Pará, mas por índole nacional – se caracteriza, no campo cultural, por ser um partido que pensa a cultura de maneira não-antropológica, embora recorrentemente, nas suas cartilhas, mencione adotar um conceito antropológico de cultura nas suas ações. Suas ações culturais, na verdade, têm o escopo de uma casuística circunstancial, sendo composta por uma série de práticas fragmentadas, que se delineiam conforme a possibilidade de uma parceria com o setor privado. O próprio lema da política cultural do PSDB indica claramente essa índole quando propõe que “cultura é um bom negócio”. Ora, o mercado, apesar de ser uma dinâmica fundamental da sociedade, não corresponde à totalidade da sociedade. Reduzir a sociedade às suas dinâmicas mercadológicas é, portanto, uma percepção anti-antropológica, justamente, da questão cultural.
Essa situação, construída sistematicamente tanto a nível federal como estadual, gerou um instrumental autoritário e reducionista, sem resultado algum em forma de circularidade, reflexão, diversidade e gratuidade, quesitos fundamentais para quem sonha com uma política cultural que favoreça o fortalecimento da sociedade e um estado de direito plural e democrático.
Governo terminado, o PSDB deixa, aos paraenses, doze anos de uma política cultural centrada em Belém e acusada de elitismo por artistas e intelectuais. Trata-se de uma política cultural que deixa marcas profundas, obras importantes e, apesar delas, muitas feridas no tecido cultural do estado. E tanto isso é verdade que as ações no campo cultural constituíram um debate privilegiado nestas eleições. Essa herança precisa ser debatida, porque o PT certamente terá, no campo cultural – incluindo nele a área das telecomunicações – um dos seus maiores embates – e, pelas circunstâncias deixadas, uma de suas maiores possibilidades de êxito.
O que segue é uma pauta crítica: os dez pecados da política cultural do PSDB.
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