“Dirijo-me aqui a todos os que concebem a cultura não como um patrimônio, cultura morta à qual se presta o culto forçado de uma piedade ritual, nem como um instrumento de dominação e de distinção, cultura bastião e bastilha, que é oposta aos Bárbaros do interior e do exterior, muitas vezes os mesmos, hoje, para os novos defensores do Ocidente, mas como instrumento de liberdade supondo a liberdade como modos operandi permitindo a superação contínua do opus operatum, da cultura coisa, e fechada. Esses conceder-me-ão, segundo espero, o direito que aqui a mim próprio concedo de invocar essa incarnação moderna do poder crítico dos intelectuais que poderia ser um intelectual colectivo capaz de fazer ouvir um discurso de liberdade, sem conhecer outro limite para além das imposições e dos controlos que cada artista, cada escritor e cada cientista, armado com todas as aquisições dos seus predecessores, faz pesar sobre si próprio e sobre todos os outros" (p. 379-80).
Pierre Bourdieu: Regras da Arte. Lisboa: Presença, 1996.
Comentários