Morreu ontem, em Paris, o escritor Jorge Semprún. Ele tinha 87 anos e era uma testemunha excepcional do século 20. Pertencente a uma família abastada, era neto do político conservador Antonio Maura – que por cinco vezes foi Primeiro Ministro da Espanha, durante o reinado de Afonso XIII – e filho do diplomata e intelectual republicano José María Semprún y Gurrea.
Passou a Guerra Civil espanhola em Haia, onde o pai era embaixador de Espanha. Em 1939, após a morte de sua mãe, quando tinha oito anos, mudou-se com o pai para Paris, onde esta passava a servir. Lá cursou a faculdade de Filosofia na Universidade de Sorbonne, e fez parte de um grupo de resistência aos nazistas durante o período da Segunda Guerra Mundial. Capturado pelos alemães, ficou preso por mais de dois anos em um campo de campo de concentração de Buchenwald. Esse período marcou tanto a sua vida política como literária, bem como o período seguinte de sua vida, quando lutou, na clandestinidade, contra o Franquismo.
Trabalhou para a UNESCO entre 1945 e 1952, altura em que começou a trabalhar para o PCE – o Partido Comunista Espanhol - onde integrou o Comité Central e o Comité Executivo –, e de onde foi expulso, por divergências com a linha oficial, em 1964.
Em 1966 pediu e obteve do Ministério da Governação da Espanha, equivalente ao atual Ministério do Interior, um passaporte com o seu nome oficial, passando a centralizar na literatura grande parte da sua atividade.
Regressou à vida política em 1988 quando foi convidado para ministro da Cultura pelo socialista Felipe González, cargo em que permaneceu três anos e onde foi muito criticado por ter vivido grande parte da vida em França.
Sua obra literária é profundamente marcada por sua memória de juventude e pela experiência no campo de concentração. Escreveu boa parte dela em francês. Também produziu roteiros de cinema, como o de "Z", de Costa-Gavras. Recebeu 12 prêmios por suas obras.
Nos anos 90 foi ministro da Cultura da Espanha durante o governo socialista de Felipe González.
A causa do falecimento de Semprún ainda não foi divulgada. Anos atrás, lembra o jornal espanhol El País, o escritor citou o poeta francês Roland Dubillard em uma de suas mais profundas reflexões sobre a morte: "Tenho certeza de que minha morte me fará lembrar de algo...".
Comentários