Jean-Luc Mélenchon, o candidato da Frente de Esquerda, promove, desde o início da sua campanha, um ataque corajoso e violento contra a mídia hegemônica. Seus adversários apressaram-se em dizer que esse jogo arriscado lhe renderia o "segundo dígito", ou seja, a chance de receber mais de 10% das intenções de voto. Mas aconteceu o contrário: quanto mais Mélenchon bate na mídia conservadora - e consequentemente, a mídia conservadora lhe dá o troco - mais aumenta sua reputação.
Longe da mídia, desprezado pelos jornais e telejornais conservadores, pelos editoriais e pela cobertura geral da campanha, seu principal espaço de comunicação se tornou a internet. Usada de uma maneira bem diferente da fórmula de Obama, porque trouxe algumas inovações interessantes.
Uma delas, por exemplo, é um simpático "kit de insurreição cívica". Melhor ver para entender. No fim do post estão os links.
Outra inovação foi um truque para envolver mais a militância: um jogo, o "placeOpeuple".
O militante se inscreve - e se torna, dessa maneira, um "révolunaute" (revolunauta) - e passa a receber pequenas missões, como dar telefonemas, escrever cartas, distribuir broches numa rua, ajudar a pintar faixas e outras típicas ações militantes, que, depois de cumpridas, lhe rendem pontos. Aos poucos o "revolunauta" vai ganhando missões maiores e mais importantes.
A pontuação de todos os "revolunautas" vão aparecendo num grande placar. É a "gameficação" da política.
O game conta com um número pequeno de participantes, cerca de 2.400, mas serviu para duas coisas: envolver esse pequeno grupo de uma maneira muito especial na ação política e transmitir, para a sociedade, associando-as à Mélenchon, idéias de criatividade, inovação e, sobretudo, cooperação.
Alban Fischer, o responsável pela campanha em Web, diz que a idéia também cria um conceito: o de sugerir que a comunicação política deve, em essência, encontrar soluções não massificadas.
Outra inovação da campanha da Frente de Esquerda é a web-série "En Marche!", que acompanha de perto a todos os movimentos da campanha. É uma narrativa divertida sobre os bastidores da campanha, o que ajuda a humanizar o candidato e a mostrá-lo de uma maneira que os franceses não estão acostumados, muito distante do tom arrogante e grandiloquente da campanha de Sarkozy, por exemplo.
A virtualização da campanha rendeu a Mélenchon resultados importantes. Provavelmente ela não é um elemento decisivo, mas é um elemento muito importante. Associado à coragem das propostas (essas sim, é claro, decisivas), acaba sendo uma campanha que transmite a idéia de seriedade e de compromisso.
Os índices de crescimento da intensão de voto no candidato estão disparando, como já mencionei aqui no blog. E também sua audiência digital.
O site Dailymotion, que transmite ao vivo as ações da maioria dos candidatos, registrou o recorde de 195.000 pessoas assistindo ao comício de Mélenchon na Bastilha. Bem mais que os 150.000 que assistiram os comícios simultâneos de Sarkozy em Villepinte, e François Hollande em Le Bourget.
Ah, e tem outra novidade: com tanto barulho, até a imprensa conservadora está se vendo obrigada a falar sobre o " fenômeno" Mélenchon.
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