Se problemas
de idioma são recorrentes a toda a sociedade, é claro, eles também ocorrem,
deve ser dito, com tradutores.
Digo-o porque
a experiência de ver a palestra de Goran Therbonr traduzida, na sexta-feira
passada, por uma profissional do ramo, foi aterradora.
Foi
dramática. A moça, em vez de traduzir o que o cientista falava, se contentava
em resumir cada bloco de sua fala. E pior: sem nenhuma noção dos termos
utilizados pelo palestrante. Ela não tinha a menor noção de conceitos próprios
do vocabulário marxista, um vocabulário compreendido, certamente, pela grande maioria da platéia.
Foi uma
experiência vexatória. A tradutora não traduziu conceitos elementares e
absolutamente necessários para contextualizar a fala de Therborn. Coisas como
mais-valia, terceiro setor, alienação, estruturalismo, anodinação, e outros.
E não foi só:
além de não traduzir, ela também traduziu errado.
Traduziu “a
esquerda árabe teve um papel importante na deposição do Xá” por “os árabes
participaram de uma festa do Chá”.
Ridículo,
não? É... E querem outra? Uma pior?
Ela tradutora
traduziu “Marx não era marxista e vai continuar além do pós-marxismo” por um
ridículo “enfim, eu não sou marxista”.
Percebi o
burburinho na platéia. A tradutora acabava de por abaixo a expectativa de pelo
menos metade das 350 pessoas que estavam presentes no auditório.
Olhem, tenho
consciência de que vir aqui partilhar com vocês esses problemas pode ter o
efeito de incentivar o disse-me-disse mesquinho das disputas internas na UFPA.
Mas, se o
faço, é em respeito ao projeto de uma academia séria e, enfim, em respeito a
todos os que se deslocaram para ouvir o Therborn.
Uma academia
séria como a iniciativa das pró-reitorias de Relações Internacionais e de Pesquisa
e Pós-graduação, que se uniram para trazer a Belém um dos grandes autores da
atualidade.
A culpa dessa
tradução pífia é somente da tradutora, é claro.
Trata-se de
um serviço licitado. E toda licitação pública obedece à equação do menor preço.
O problema é
que para questões como essa, menor preço é, geralmente, garantia de um serviço
de má qualidade.
O que tenho a
dizer publicamente é que o serviço de tradução que atende a UFPA é muito, muito
ruim.
Muito
incompetente.
Para traduzir
uma palestra com conteúdo científico é necessário uma competência que não é
somente lingüística, mas também cultural.
Sobretudo nas
áreas das ciências humanas e sociais.
É preciso
leitura, conhecimento do vocabulário e, sobretudo, disposição em prestar um
serviço adequado.
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