Notícias que ajudam a entender as formas cada vez mais sofisticadas de apropriação ou burla do espaço público, presentes na sociedade brasileira. Leio que o Shopping Pátio Higienópolis, segundo denúncia de uma ex-diretora de seu grupo controlador, pagou propina de R$ 133 mil para funcionar sem as 1.994 vagas de estacionamento previstas pela Companhia de Engenharia de Trânsito (CET). Em tese, uma forma de evitar a falta de vagas nas ruas do entorno, reduzindo assim o congestionamento.
Ninguém noticiou ainda quais são exatamente os critérios para definir o número de vagas, mas vamos considerar que sejam adequados.
A propina, segundo a denúncia, foi paga a Hussain Aref Saab, ex-diretor do setor de aprovação de prédios da Prefeitura de São Paulo, na gestão do ex-demo Gilberto Kassab.
O shopping “diferenciado” teria reservado vagas extras em dois estacionamentos, um deles localizado a um quilômetro de distância. Seriam 470 vagas. Funcionários dos estacionamentos negam que isso tenha acontecido. Pode ter sido um contrato de gaveta, para inglês ver.
Ao pagar a propina, o shopping se livrou do cumprimento da legislação municipal, transferiu para o espaço público um problema que era seu, não pagou pelas vagas em estacionamentos particulares e faturou ou permitiu que alguma concessionária faturasse um horror de dinheiro no chamado Valet Parking. Motoristas muitas vezes recorrem ao serviço de manobrista depois de enfrentar um inferno para encontrar espaço num estacionamento onde faltam 470 vagas. O serviço com manobrista tem um custo mínimo de 15 reais na primeira hora e 10 reais adicionais por hora.
Em resumo, o shopping transferiu a escassez de vagas das ruas para dentro de sua garagem, com lucro extraordinário.
É um resumo do capitalismo à brasileira.
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