Pular para o conteúdo principal

Sobre Maffesoli e o curso de introdução à sua obra

Reproduzo a entrevista que dei à jornalista Márcia Carvalho sobre o curso "Introdução à Obra de Michel Maffesoli", publicada hoje em O Liberal.

O curso continua amanhã e segunda-feira, de 9 às 12h30, no auditório Setorial Básico II da UFPA. Quem quiser pode aparecer.
Francês faz palestra em Belém no dia 18. Hoje, curso prepara os participantes. 
MÁRCIA CARVALHO
Da Redação 
O sociólogo francês Michel Maffesoli estará em Belém no próximo dia 18 para ministrar a palestra "Pós Modernidade: A Comunicação e a Alteridade no Mundo Digital". Com dezenas de livros publicados, Maffesoli é referência internacional nas pesquisas sobre pós-modernidade, imaginário e tribos urbanas. A vinda do sociólogo é resultado de uma parceria entre Aliança Francesa de Belém, Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da UFPA, Faculdade de Comunicação da UFPA e Pró-Reitoria de Relações Internacionais da UFPA. Como evento preparatório à palestra do estudioso francês, o professor Fábio Fonseca de Castro realiza o curso "Introdução à obra de Michel Maffesoli", que será ministrado a partir de hoje até o dia 17, no Auditório Setorial II da UFPA. Ele falou ao Magazine sobre a importância da vinda de Maffesoli.

Como surgiu a ideia de trazer Maffesoli a Belém?
A implementação da pós-graduação em 2010 tem permitido ampliarmos o diálogo com alguns autores importantes dos estudos sobre a cultura contemporânea, sobretudo no cenário internacional. Dialogando com esses pesquisadores percebo como é grande o interesse deles pela Amazônia e como é importante desmistificar a Amazônia para o resto do mundo - embora fazê-lo seja ainda mais difícil para dentro do Brasil. Esta é a segunda vez que Maffesoli vem a Belém, mas a primeira no âmbito de uma cooperação científica mais profunda, já que vamos construir uma parceria entre o Centro de Estudos sobre o Atual e o Quotidiano, que ele coordena na Sorbonne, e o meu grupo de pesquisa, sobre Sociologias da Cultura e da Comunicação na Amazônia.

As inscrições ao curso introdutório superaram as expectativas. O senhor esperava tamanho interesse?
E superaram. Eu reservei uma sala com 30 lugares e passamos para um auditório maior, para atender às 160 pessoas, mais ou menos, que se inscreveram no curso. Ver esse interesse é muito estimulante. O próprio professor Maffesoli ficou surpreso com a informação. Belém tem uma grande sede de diálogo com pensadores contemporâneos.

Qual seria a principal contribuição de Maffesoli às discussões sobre pós-modernidade e mundo digital?
Ele pertence a uma corrente de pensadores que adotam uma linha não-pessimista em relação ao processo de fruição da cultura na sociedade contemporânea. Nesse sentido, a ideia de "pós-modernidade", para Maffesoli, não conforma uma situação de "crise do pensamento", como para outros autores, mas, ao contrário disso, uma situação de recomposição dos papéis sociais e de novas aberturas criativas. No mesmo caminho, a tecnologia em geral e a internet, em particular, são analisadas, por ele, como elementos que contribuem para a recomposição dos papéis sociais.

Maffesoli defende a tese de que a sociedade atual estaria saturada. Quais seriam os sintomas desta saturação?
Quando ele usa o termo saturação o faz com uma dimensão, na verdade, positiva. O que está saturada é a epistemologia, a razão moderna. Nesse sentido a sociedade está saturada, na verdade, de saberes dominantes cínicos e arrogantes. E isso permite o surgimento de coisas interessantes, como a valorização da experiência de sociedade tradicionais, novas formas de luta social e de democracia, a percepção da obra de arte fora da rigidez imposta de estética e pela história da arte, a valorização do cotidiano. 
Serviço
Palestra "Pós-Modernidade: A Comunicação e a Alteridade no Mundo Digital", de Michel Maffesoli. Dia 18, de 14h às 19h, no Auditório do Instituto de Ciências Jurídicas da UFPA. Retirada de convites antecipadamente na Aliança Francesa.
Informações: 3224-3998.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

O enfeudamento da UFPA

O processo eleitoral da UFPA apenas começou mas já conseguimos perceber como alguns vícios da vida política brasileira adentraram na academia. Um deles é uma derivação curiosa do velho estamentismo que, em outros níveis da vida nacional, produziu também o coronelismo: uma espécie de territorialização da Academia. Dizendo de outra maneira, um enfeudamento dos espaços. Por exemplo: “A faculdade ‘tal’ fechou com A!” “O núcleo ‘tal’ fechou com B!” “Nós, aqui, devemos seguir o professor ‘tal’, que está à frente das negociações…” Negociações… Feitas em nome dos interesses locais e em contraprestação dos interesses totais de algum candidato à reitoria. Há muito se sabe que há feudos acadêmicos na universidade pública e que aqui e ali há figuras rebarbativas empoleiradas em tronos sem magestade, dando ordens e se prestando a rituais de beija-mão. De vez em quando uma dessas figuras é deposta e o escândalo se faz. Mas não é disso que estou falando: falo menos do feudo e mais do enf...

UFPA: A estranha convocação do Conselho Universitário em dia de paralização

A Reitoria da UFPA marcou para hoje, dia de paralização nacional de servidores da educação superior, uma reunião do Consun – o Conselho Universitário, seu orgão decisório mais imporante – para discutir a questão fundamental do processo sucessório na Reitoria da instituição. Desde cedo os portões estavam fechados e só se podia entrar no campus a pé. Todas as aulas haviam sido suspensas. Além disso, passamos três dias sem água no campus do Guamá, com banheiros impestados e sem alimentação no restaurante universitário. Considerando a grave situação de violência experimentada (ainda maior, evidentemente, quando a universidade está vazia), expressão, dentre outros fatos, por três dias de arrastões consecutivos no terminal de ônibus do campus – ontem a noite com disparos de arma de fogo – e, ainda, numa situação caótica de higiene, desde que o contrato com a empresa privada que fazia a limpeza da instituição foi revisto, essa conjuntura portões fechados / falta de água / segurança , por s...