Lançado o livro "Impérios da Comunicação – Do Telefone à Internet, da AT&T ao Google", de Tim Wu, pela Zahar. O livro tem 432 pgs. e custa R$ 54,90. Reproduzo resenha do portal G1:
Mais que apresentar uma história convencional das tecnologias e dos meios de comunicação, do telefone à Internet, ‘Impérios da Comunicação’ esboça uma teoria engenhosa, ainda que questionável: a de que essa história é marcada por ciclos que repetem o mesmo padrão. A um período inicial de abertura, democratização e liberdade, afirma Tim Wu, professor na Universidade Columbia, segue-se invariavelmente a formação de grandes monopólios da informação. Nas palavras do autor, todas as inovações tecnológicas, inicialmente transgressoras e revolucionárias, acabam criando indústrias, e indústrias criam impérios, sempre restritivos e conservadores. A grande questão é saber se a Internet, apesar de sua estrutura descentralizada, também deixará para trás seu momento libertário e democrático para ser assimilada por essa dinâmica. Para Wu, há sinais de que o processo de “fechamento” da Internet já está em curso.
Wu fundamenta sua argumentação interpretando, à luz dessa teoria, momentos decisivos da história do telefone, do rádio, da televisão e do cinema, começando pelos bastidores da formação da poderosa AT&T (American Telephone and Telegraph), nas primeiras décadas do século 20, nos Estados Unidos. Esse império da AT&T durou até 1984, quando uma decisão do governo americano forçou seu desmembramento nas chamadas Baby Bells, mas a empresa voltou a acumular poder nos últimos anos, sendo hoje um dos principais players da indústria da comunicação nos Estados Unidos, além da Apple e do Google. Embora seguindo agendas diferentes e até conflitantes, esses gigantes às vezes se unem, em tenebrosas (para o autor) alianças, com conseqüências devastadoras.
A crônica dessa constituição de monopólios e seus efeitos no mercado escrita por Wu está repleta de episódios de traições, processos judiciais, acordos de bastidores, golpes de sorte e agendas secretas, nas quais invariavelmente a maximização do lucro prevalece sobre a liberdade criativa e o interesse público. Isso tem resultado, historicamente, na consolidação de “ambientes de informação” dominados por monopólios privados, muitas vezes favorecidos, paradoxalmente, por políticas públicas equivocadas. Mas por que isso seria necessariamente ruim? Porque, segundo o autor, aquilo que pensamos e a maneira como pensamos dependem das informações a que estamos expostos, e informação não é uma mercadoria como outra qualquer: seu monopólio e sua concentração têm conseqüências políticas, econômicas e culturais que afetam toda a sociedade.
Tendo como personagens grandes e carismáticos inventores/empreendedores, de Graham Bell e Thomas Edison a Bill Gates e Steve Jobs, ‘Impérios da Comunicação’ é uma leitura interessante para o público leigo, em seus trechos mais estritamente históricos. Mas os capítulosem que Wureflete sobre o sentido e a importância da regulação do setor por parte do Governo não são exatamente fáceis, exigindo alguma familiaridade com debatesem curso. Porexemplo, é preciso entender o que significa a “neutralidade da rede” nas telecomunicações e na Internet – o termo, cunhado por Wu dez anos atrás, se refere basicamente à separação entre quem presta o serviço, produzindo conteúdos, e quem detém o controle sobre a infraestrutura, os canais por onde os conteúdos circulam. Também é necessário algum conhecimento sobre conceitos ligados à regulação, como as falhas do mercado e a “captura regulatória” (irritantemente chamada de “captação regulatória”, numa falha rara da tradução).
Apesar do alerta, recorrente em cada capítulo, de que o risco de “fechamento” da Internet é iminente, o tom de ‘Impérios da comunicação’ não é apocalíptico, nem ideológico. Wu admite que, em muitos casos, a intervenção governamental pode ser um remédio pior que a doença, se não for feita com critério e cautela. Reconhece, também, os méritos das grandes empresas no sentido de oferecer soluções convenientes para os usuários – e muitas vezes isso só é possível em função da escala com que essas empresas operam: por exemplo, a AT&T cabeou boa parte do território americano, o Google escaneou e disponibilizou bibliotecas, e não há quem duvide da qualidade dos iPhones, iPods e iPads. No setor das comunicações, o monopólio não deixa de ser uma tendência natural, já que, ao contrário do que acontece em outros mercados, uma rede se torna mais valiosa à medida que mais pessoas a utilizam: uma rede que todo mundo usa, como o Facebook, vale muito mais que cem redes com usuários pulverizados. Ainda assim, a pregação de Tim Wu é necessária, por lembrar que a Internet ainda está em processo de construção, e talvez esse processo nunca termine: ela já não é o que era cinco anos atrás, e daqui a cinco anos poderá estar muito diferente do que é hoje, para o bem e para o mal.
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