O Conselho Universitário
(Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião
extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão
do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a
renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida
alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está
exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve.
Acho muito interessante quando
a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más
nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso,
igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma
disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar
– não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar.
Não obstante, em minha
compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto
específico.
A decisão de renunciar leva à
antecipação de um processo sucessório que deveria, respeitar uma agenda de
reflexão e diálogo construída coletivamente.
A UFPA é importante demais para
escolher um reitor no afogadilho do tempo, e está viva demais para prescindir
do debate, do diálogo e da construção coletiva.
Evidentemente que fazer as
coisas dessa maneira beneficia a alguns, em detrimento de outros. E beneficia a
alguns projetos, em detrimento de outros. Rompe com os preceitos da
transparências e da igualdade de condições. E isso é perigoso, porque a
tendência é que um processo eleitoral atropelado leve a escolhas superficiais,
norteadas por um comportamento de escolha, de voto, do tipo “onde vou errar
menos”. A um comportamento baseado na superficialidade e nas aparências.
Esse tipo de “truque” não
deveria estar presente numa universidade pública. Num momento em que a política
se torna desacreditada por muitos, estratégias eleitorais desse tipo apenas
fragilizam os fundamentos do que deve ser a boa política e comprometem,
inclusive moralmente, a nossa instituição.
Desculpem se ofendo a alguém,
mas não estou de acordo com essa situação. E, sinceramente, acho um absurdo
atropelar toda uma comunidade formada por pessoas competentes, inteligentes e
honestas em função de um projeto de poder.
De um projeto de continuação.
Não digo de continuísmo, pois
evidentemente há valor e mérito na gestão do Prof. Maneschy e sua equipe,
inclusive, e sobretudo, na gestão do Prof. Tourinho, por quem tenho grande
admiração e que nos foi apresentado como seu sucessor.
Mas um projeto de continuação.
De continuação, de sucessão, de construção de um núcleo de poder que agora se
apresenta como projeto eleitoral.
Um projeto de continuação que
transforma a Reitoria de uma universidade pública num Reitorado.
Nem a pressa, nem o
individualismo, nem o oportunismo, como todos sabemos, são bons conselheiros na
academia.
Mesmo tatilmente, pensando do
ponto de vista estritamente político, isso rompe qualquer base e embaralha
qualquer diálogo: desgasta a governabilidade. Prova disso é o estado atual de
disputa que parece tomar conta do próprio núcleo de poder da reitoria. Todos
sabemos que há desacordos e rupturas. E essa situação ameaça, por antecipação,
a próxima gestão, porque desacredita-a.
Em síntese, o que penso: 1) É
preciso garantir a equidade na disputa; 2) Precisamos garantir o pleno debate e
a construção de uma campanha democrática; e 3) A eleição não deve ser
antecipada em hipótese alguma.
Espero que a comunidade da UFPA
tenha maturidade para seguir no caminho do bom senso e da política construtiva.
E espero que o Consun saiba ouvir e respeitar a comunidade.
Comentários
Recebi vários comentários com considerações sobre os candidatos à sucessão do Prof Maneschy, com declarações de apoio e também com críticas. Informo que decidi não publica-los aqui, pelo fato de que não é esse o tema do post. Penso que o assunto da antecipação das eleições para a reitoria, da maneira como esta sendo feita, é um tema que precede todo debate eleitoral. É uma questão maior, a considerar antes de todas as outras. Por isso mesmo, desviar o debate para a questão de quem é o melhor candidato terá o poder de retirar o foco do assunto mais urgente. Espero que compreendam minha decisão, que a condição de moderador do blog me permite. Evidentemente, no futuro, poderemos falar sobre as candidaturas e certamente falaremos, ok?
Em qualquer hipótese não é edificante. Tive boa impressão do reitor nos poucos contatos que tive oportunidade de manter com ele. Acho que ficaria melhor à sua imagem pública cumprir integralmente o mandato na reitoria antes de se lançar à carreira política. José Marajó Varela.
Muito oportuna e sintética essa análise do Prof. Fabio Fonseca de Castro. Essa perspectiva política de substituições por outra objetividade política tem seu desgaste e espero que os projetos acadêmicos que são projetos de vida de muitos não se percam nesse turbilhão de negociações onde o que está em jogo é também a governabilidade. Tenho tido muito bons retornos na academia (por isso ainda não deixei minha sala de pesquisa hehehe) e espero continuar a acreditar em seus membros (em todos os sentidos). Luzia Miranda Álvares.
Que se convoque a Assembléia Geral ! Já !!!