Nesta segunda-feira, dia 7/11, os estudantes da UFPA irão se reunir
para debater a ocupação da instituição em protesto à PEC-55 – novo nome da
PEC-241 que, como se sabe, congela os investimentos sociais do Governo Federal,
notadamente os investimentos em educação, pelos próximos 20 anos. A UFPA de
Belém tarda em entrar nesses processo, embora todos os campi do interior já
tenham aderido, bem como a UFOPA e a UNIFESSPA e outras dezenas de
universidades, campi, institutos federais e, sobretudo, escolas públicas. As
razões dessa demora merecem ser exploradas.
Temos um perfil conservador no alunado da universidade, sim, mas
sobretudo temos um discurso anti-greve
que torna muitos alunos reféns do casuísmo da direita. Com efeito, vejo
três blocos de opinião:
-
os que são contra a PEC-55 e a favor da ocupação
-
os que são contra a PEC-55 e contra a ocupação
-
os que são a favor da PEC-55 e contra a ocupação
Salta aos olhos a ambiguidade do grupo do meio. Sua posição decorre
desse discurso contra ocupação justificado como reivindicação de um direito de
“não deixar de ter aula” – o que tem coerência e tem mérito, mas, no contexto
político do país, não deixa de ser, sobretudo, uma posição que favorece o
terceiro grupo – e, juntamente, o ideário e as manobras golpistas em curso,
além, é claro, da aprovação da PEC.
Será realmente possível que alguém, no contexto atual, seja ao mesmo
tempo contra a PEC-55 e contra a ocupação? Só o que o justifica é uma operação
lógica invertida, desprovida de uma leitura de conexto mais elaborada e
matizada por um discurso eminentemente liberal e iminentemente conservador.
Essa leitura, me parece, é produzida pelo discurso golpista, aliás
muito bem articulado e bem colocado – mas canalha – que procura ativar o individualismo e o egoismo de cada um dizendo que
uma greve tem por resultado, apenas, prejudicar o ciclo universitário dos
alunos, que toda greve é igual, que toda greve é fruto da vontade de não
trabalhar de professores, que toda greve não leva a nada.
E nada disso é verdade. Paralisações e greves são os instrumentos
legítimos e justos que estão ao alcance dos servidores para reivindicarem
direitos. Além disso, paralisações e greves são contextuais: não há greve pela
greve, isso é absurdo. E acreditar nisso é uma burrice sem tamanho. Sem tamanho
porque, numa instância, se está sendo burro pela falta de conexão promovida com
o próprio contexto e porque, numa outra instância, se está servindo de massa de
manobra para o próprio inimigo, já que o discurso de ser contra a ocupação tem
por efeito imediato favorecer o discurso de ser a favor da PEC-55.
Bem sei que o que move essa posição de ser contra a PEC-55 e contra a
ocupação ao mesmo tempo é a desilusão com a política, tão presente na sociedade
brasileira atual e tão evidente nas eleições deste ano.
O que leva alguém a adotar uma postura contraditória dessa natureza é
a ambiguidade gerada pela confusão entre discursos e esse estado de alma que
envolve pessoas de bem mas que se
prestam a serem manipuladas pelos discursos conservadores e fascistas.
Ser contra a política
resulta em ser individualista e egoísta. Ser contra greves justas e necessárias
para a garantia do bem comum e para a defesa do coletivo e do social significa
endossar a percepção de que ninguém mais tem interesses coletivos e que ninguém
mais defende o justo, o idôneo e o bem comum.
O discurso
anti-política leva, inexoravelmente, à crença de que tudo resulta de
interesses individuais e que, portanto, é justo defender os interesses individuais de ter
aulas e não atrasar a formação.
Pessoalmente, considero uma posição sem coragem e, sobretudo, sem
noção.
O momento é crítico e quem já percebeu o que significa a aprovação da
PEC-55 para a universidade pública e o peso que isso terá sobre o bem comum e
sobre a democracia precisa se posicionar.
A semana vai ser tensa na UFPA, mas os enfrentamentos são necessários.
Os atores principais são os alunos e é preciso que eles estejam presentes nesse
debate. Ressalto que a própria ideia de ocupação já constitui uma renovação criativa
da ideia de greve e, portanto, um processo de reconstrução da própria
política.
Segue aqui uma ideia:
se não rolar uma ocupação geral, fazer uma ocupação reticulada, ocupando os
espaços possíveis. O Instituto de Letras e Comunicação, a Arquitetura e todos os demais
espaços que já se declararam pela ocupação podem ser ocupados independentemente
da assembleia dos alunos se declarar por ou contra a ocupação.
A ideia é fazer uma
ocupação por guerrilha e criar um circuito cultural, político, científico ente os territórios livres –
ou seja, ocupados – da UFPA.
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