A vitória de Emmanuel Macron nas eleições presidenciais da França só oferece um motivo de comemoração: ter derrotado Marina Le Pen. Trata-se do famoso “menos pior”.
No cenário político, Macron ocupa uma posição, digamos assim, de “extremo centro”. Participou do governo socialista, é certo, mas antes foi banqueiro dos Rotschild. Propõe um plano de investimentos sociais de 50 milhões de euros, é certo; mas também um corte de 60 milhões de euros no orçamento.
Deseja reformar o Código do Trabalho para dar mais garantias ao trabalhador, mas ao mesmo tempo promete extinguir 120 mil empregos públicos e cortar 10 milhões de euros no orçamento do seguro-desemprego.
Querem mais? Promete investir 15 milhões de euros na transição energética para um modelo sustentável, mas não deseja abandonar o modelo nuclear (a França tem 58 reatores nucleares em atividade).
Como eu dizia: Macron é o extremo centro.
O seu primeiro ministro, que deve ser anunciado dentro de alguns dias, deve reproduzir essa tensão: fala-se em François Bayrou, com simpatias socialistas - em todo caso um democrata importante -, mas também em Laurence Parisot, antiga presidente do Medef, a maior organização patronal francesa, o equivalente à Fiesp brasileira. Uma opção coerente, por seu centrista também “extremo", seria Jean-Louis Borloo, antigo ministro, amigo de Macron.
E outra coisa me assusta: a futilidade e a volatilidade do seu discurso político. Que dizer de alguém que coloca no centro dos seus compromissos, “moralizar a vida pública”? Que é um populista, é claro! Bem conhecemos os mecanismos que produzem esse tipo de afirmação, em qualquer contexto…
Isso tem a ver também com a rapidez e com a ardilosidade com a qual construiu sua candidatura. Percebendo o naufrágio trágico do governo do qual participava - o de François Hollande - Macron alimentou e fez parte das inúmeras conspirações internas e saiu no momento oportuno, sabendo que não seria o candidato dos socialistas, para fundar o movimento por meio do qual lançou sua candidatura, o En Marche.
Não sei se os próximos anos serão de crescimento das já imensas contrariedades e expectativas sociais dos franceses. Também não sei dizer, nem mesmo enquanto possibilidade, sobre o futuro dos grandes partidos franceses - os Republicanos, da direita, os Socialistas, o Front National da ultra-direita, a nova esquerda representada por Mélenchon, com sua France Insoumise e o verdes no novo cenário configurado. Porém, uma coisa parece certa: prosseguirá, na França, a política de hesitação e de dependência completa dos movimentos econômicos da Alemanha. A mesma política que arruinou os socialistas e que fez o triunfo financeiro dos apoiadores da direita. A mesma política que estimula o voto na extrema-direita. A mesma política que faz surgir “o novo” - Macron - do nada e que lança “para lugar algum” o futuro do país.
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