A semana que se abre com o incêndio do Museu Nacional – e, empiricamente, da destruição de todo esforço para construir uma identidade nacional brasileira –, se encerra, às véspera do Dia da Independência, com o candidato fascista, vestindo uma camisa verde-amarela e com os dizeres “Meu partido é o Brasil” sendo alvejado com uma faca.
São fatos independentes, aleatórios entre si, mas as narrativas que os
envolvem sugerem alguma sincronia entre eles.
A narrativa
produzida pela mídia, em nossa época, bem como a narrativa mais usual da
descrição do quotidiano, na sociedade midiatizada, está baseada na exploração conjuntiva
da aleatoriedade dos fatos. Ou seja: tanto a mídia como a
sociedade midiatizada tornam sincrônicos eventos distintos entre si.
A narrativa da mídia se tornou hiper-realista e, por essa via, tudo
parece dizer mais do que aparenta ser. Evidentemente porque há proveito a tirar
da presunção de sincronicidade, da substituição do fato pelo vaticínio, da
conveniência do caos. O fato é que vivemos uma época de significados saturados.
Desde
que o museu Nacional pegou fogo venho explorando a sensação de estar vivendo
numa pós-história. Numa história sem base material e plena de falsas sincronias,
espaço no qual vicejam as fake news, a cobertura hiper-realista da mídia, o
cinismo absoluto, conivente e conveniente dos tribunais e o fascismo galopante
dos ditos “cidadãos de bem”.
Nesse
mundo da pós-história tudo vai rapidamente se tornando passado: as coleções do
Museu Nacional, a Petrobrás e o Pré-sal, as conquistas do trabalhismo
e do sindicalismo, a pactuação democrática, o esforço de coerência…
Apenas Lula, curiosamente, apesar de tudo, não passa. Apenas ele, o grande ausente, permanece
presente, apesar das sincronias distópicas em que a grande mídia o envolve.
Comentários