Faleceu em Lisboa, no último 8 de novembro, aos 99 anos e 11 meses, o pintor e poeta Cruzeiro Seixas - Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas -, figura destacada do movimento surrealista português. Foi talvez o principal animador das épicas tertúlias do Café Hermínius, núcleo do surrealismo em Portugal.
Primeiramente pintor, fez sua primeira exposição em 1949 seguiu uma carreira nas artes visuais que foi propulsionada a partir de 1967, com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, emendada numa importante ação como cenógrafo de balés mundo afora.
Conheci-o, primeiramente, por ilustrador da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, organizada por Natália Correia em 1966 e que encontrei na Biblioteca da Universidade de Brasília quando lá fazia meu mestrado. Depois, li sua poesia. Cruzeiro Seixas deixou toda a sua coleção, já em 1999, para o Museu do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda, de Vila Nova de Famalicão.
Depois vi alguns filmes sobre ele: N.O.M.A. Cruzeiro Seixas (2006) de Carlos Cabral Nunes; Cruzeiro Seixas. O Vício da Liberdade (2010) de Alberto Serra e Ricardo Espírito Santo; e As Cartas do Rei Artur (2016) de Cláudia Rita Oliveira.
Mais sobre Cruzeiro Seixas aqui.
Reproduzo um de seus poemas que mais gosto, Um cão é isto de sermos gente.
Um cão
é isto de sermos gente.
Se temos só duas pernas
temos em contrapartida
uma complicação escura
dentro do peito.
os fundos desconhecidos
da água
só conhecidos
dos náufragos.
é preciso uma arma
e para voar
como búzios
precisamos papel e lápis
— e assim viajamos
dentro de vegetais malas de viagens
procurando o destino sufocante
de todas as paragens.
Artur do Cruzeiro Seixas, in ‘Homenagem à Realidade’
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