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La fausse suivante

Marivaudage. Uma dessas estranhas e ricas palavras do francês coloquial - ja classicisada, na verdade, e que nos ensinou tanto dali. A esse proposito, fomos ver "La fausse suivante", de Benoît Jacquot, no cinema da Estação das Docas. Marivaux é o autor mais alegre de que tenho conhecimento. Ele conforma a modernidade mais pura, mais pia, mais empolgada de que tenho noticias. A ponto de brincar sobre o tema que, em outros, viria a ser serissimo - o da metamorfose. Suas peças são essa reconstrução incessante de realidades: permutas entre sociedade e natureza, arte e vida, constância e inconstância, autêntico e inautêntico, convenção e espontaneidade, linguagem e sentido, nobreza e burguesia, pronvincia e Paris, mascara e rosto. Li duas de suas peças: uma foi "Noblesse e bourgeoisie" e da outra não recupero o titulo, mas sei que se tratava, tal como também esta, agora versada para o cinema, de um desses titulos anatematicos tão ao seu gosto. Ora, a criada "falsa", é-o com imenso prazer de mentir, com alegria, esperteza, desmentindo a idéia geral de que a mascara é sisuda e o rosto profundo. Ora, profunda é mais a mascara que o rosto. As mascaras da nobreza, por exemplo, tão mais sofisticadas e sensiveis que as mascaras da burguesia incipiente e composta por parvenus de Marivaux. Alias, voltando do filme encontrei uma citação de Lionel Trilling que é grandemente conveniente para entender Marivaux:

"All literature tends to be concerned with the question of reality--I mean quite simply the old opposition between reality and appearance, between what reality is and what merely seems".

Ah, lembrei da outra peça: "L'héreux stratagème". Ora, nesse titulo e nesse texto, tal como nos demais, esta presente esse gosto pelo paroxismo que foi, em marivaux e para os homens de seu tempo, provavelmente, de um humor prazeiroso - um tanto cinico, un tanto coquin.

Pessoalmente, acho Marivaux mais significativo que Mollière, apesar de não ter o francês substancioso deste. Mais significativo (não que importe sê-lo, mas afinal, tal como ele fazia, posso também brincar de criar anatemas) por sua capacidade em traduzir seu tempo, uma modernidade social plena de algo que nos falta e que, talvez com algum apoio de P. Ricoeur, se pudesse chamar de mis-en-intrigue.

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