A metafísica de Platão separa o ser da aparência. Corresponderia o ser a uma essencialidade sua, profunda e superior, que lhe constitui todo o fundamento. A uma essencialidade presente no mundo superior da idéias. A essência do ser (eidos) teria por oposição a imagem do ser (êidolon), por sua vez correspondente à aparência que tem o mundo das idéias no mundo empobrecido da vida.
Essa metafísica penetra tão profundamente na cultura ocidental que faz com que toda imagem e toda cópia sejam postas sob suspeita. Suspeita de seu caráter duplo, recorrente. De sua condição mimética, ou seja, do fato de constituir-se como cópia.
Essa suspeição gera um dos fenômenos estruturais da nossa sociedade ? que se desdobra em muitos processos da vida cotidiana : formas de preconceito, maneira como são tratados e considerados os artistas e a arte e, num plano mais subjetivo, como certas estratégias culturais ? formas de tratamento, visões de mundo, processos políticos, etc. ? são colocados na vida cotidiana.
De certa maneira, a imagem constitui uma ausência e uma condenação ? o que é um paradoxo, pois, ao condenar-se uma coisa que está ausente, uma coisa que se realiza enquanto possibilidade, condena-se a própria mente que a elabora. O sujeito, pois, que condena a imagem, condena-se a si próprio, tangencialmente pelo ato de a elaborar.
Condena-se uma presença possível. Porém, essa presença é, em si mesma, tangencial. Pois, na medida em que a imagem evoca uma presença tangencial em si mesma, ela evoca concomitantemente uma não presença.
Que seria a imagem senão a idéia? A cultura ocidental discursa sobre o tátil, o material, opondo-o ao visual. Ao fazê-lo, delimita uma dicotomia essencial que norteia todo o caráter do imagético - ou seja, da cultura da imagem - ou, ainda, da conceituação e figuração da imagem na cultura ocidental.
Na Idade Média essa condenaçã é ampliada em seu extremo e radicalizada. Deus manipula as imagens ? vive-se no mundo de aparências. A teologia é constitu?da sobre a idéia de que a mímese é a melhor forma de aceder ao conhecimento. O próprio homem é descrito como imagem de Deus. Jesus Cristo é ? filho ? de Deus, logo, igualmente sua imagem. Tertuliano (197-220) condena esse pensamento e dessa forma, a Patrística. Aliás, a Patrística, a respeito da imagem, elabora duas opiniões excludentes :
- E a imagem um meio (um mídia) para ver o invisível?, ou
- E ela, apenas, um ídolo, que não representa senão ela mesma?
Na verdade, o estatuto da imagem, na cultura ocidental, se coloca como uma rejeição de toda aparência ? com vistas à essência.
A imagem, na verdade, evidencia o estatuto do simbólico ? essa vida paralela, associada à nossa, que se torna (e cada vez mais) mais visível, perceptível. A respeito desse ?estatuto do simbólico? ver J. Lacan e sua ?teoria do estado do espelho?, segundo a qual há um momento em que o sujeito compreende que há no mundo um registro simbólico do real.
Com efeito, é por meio desse registro simbólico que o indivíduo usa da realidade. Diz Jaques Aumont que a imagem tema função de gerar um saber sobre o social : ? l?image est un système de compréhension ?. Um sistema de signos que permite compreender um sistema real.
Por isso ela é, a um só tempo, subjetiva e coletiva.
Portanto é extenso o campo semântico da imagem: imaginário, mito, sonho, arquétipo, símbolo, signo, etc.
Coisa-não coisa invisível. Presença ausente. Espectro. Espelho. Speculum.
Porém, há imagens simbolicamente organizadas (figuras de linguagem, a pintura, etc.) e imagens simbolicamente desorganizadas (figuras do pensamento, fantasmagorias, etc.). Não obstante serem, todas, formas de representação.
É preciso falar em representação quando se quer falar em imagem.
Essa metafísica penetra tão profundamente na cultura ocidental que faz com que toda imagem e toda cópia sejam postas sob suspeita. Suspeita de seu caráter duplo, recorrente. De sua condição mimética, ou seja, do fato de constituir-se como cópia.
Essa suspeição gera um dos fenômenos estruturais da nossa sociedade ? que se desdobra em muitos processos da vida cotidiana : formas de preconceito, maneira como são tratados e considerados os artistas e a arte e, num plano mais subjetivo, como certas estratégias culturais ? formas de tratamento, visões de mundo, processos políticos, etc. ? são colocados na vida cotidiana.
De certa maneira, a imagem constitui uma ausência e uma condenação ? o que é um paradoxo, pois, ao condenar-se uma coisa que está ausente, uma coisa que se realiza enquanto possibilidade, condena-se a própria mente que a elabora. O sujeito, pois, que condena a imagem, condena-se a si próprio, tangencialmente pelo ato de a elaborar.
Condena-se uma presença possível. Porém, essa presença é, em si mesma, tangencial. Pois, na medida em que a imagem evoca uma presença tangencial em si mesma, ela evoca concomitantemente uma não presença.
Que seria a imagem senão a idéia? A cultura ocidental discursa sobre o tátil, o material, opondo-o ao visual. Ao fazê-lo, delimita uma dicotomia essencial que norteia todo o caráter do imagético - ou seja, da cultura da imagem - ou, ainda, da conceituação e figuração da imagem na cultura ocidental.
Na Idade Média essa condenaçã é ampliada em seu extremo e radicalizada. Deus manipula as imagens ? vive-se no mundo de aparências. A teologia é constitu?da sobre a idéia de que a mímese é a melhor forma de aceder ao conhecimento. O próprio homem é descrito como imagem de Deus. Jesus Cristo é ? filho ? de Deus, logo, igualmente sua imagem. Tertuliano (197-220) condena esse pensamento e dessa forma, a Patrística. Aliás, a Patrística, a respeito da imagem, elabora duas opiniões excludentes :
- E a imagem um meio (um mídia) para ver o invisível?, ou
- E ela, apenas, um ídolo, que não representa senão ela mesma?
Na verdade, o estatuto da imagem, na cultura ocidental, se coloca como uma rejeição de toda aparência ? com vistas à essência.
A imagem, na verdade, evidencia o estatuto do simbólico ? essa vida paralela, associada à nossa, que se torna (e cada vez mais) mais visível, perceptível. A respeito desse ?estatuto do simbólico? ver J. Lacan e sua ?teoria do estado do espelho?, segundo a qual há um momento em que o sujeito compreende que há no mundo um registro simbólico do real.
Com efeito, é por meio desse registro simbólico que o indivíduo usa da realidade. Diz Jaques Aumont que a imagem tema função de gerar um saber sobre o social : ? l?image est un système de compréhension ?. Um sistema de signos que permite compreender um sistema real.
Por isso ela é, a um só tempo, subjetiva e coletiva.
Portanto é extenso o campo semântico da imagem: imaginário, mito, sonho, arquétipo, símbolo, signo, etc.
Coisa-não coisa invisível. Presença ausente. Espectro. Espelho. Speculum.
Porém, há imagens simbolicamente organizadas (figuras de linguagem, a pintura, etc.) e imagens simbolicamente desorganizadas (figuras do pensamento, fantasmagorias, etc.). Não obstante serem, todas, formas de representação.
É preciso falar em representação quando se quer falar em imagem.
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